Vim
pensando durante esses dias sobre como as coisas conseguem mudar
repentinamente, em tão pouco tempo e de maneira tão drástica. Achava que eu era
volúvel ou suscetível demais, para deixar tantas mudanças afetarem minha vida.
Sempre
com o coração na mão.
Sempre
se partindo.
Sempre
devolvido em pedaços.
Achei que o problema era eu. Ou era fácil
demais, ou mimava demais quem merecia uma dura lição.
Não.
O
problema não estava só em mim.
O
amor ainda está aqui. Na mesma proporção, mas não da mesma forma. Foi magoado,
traído, quebrado.
E
como por milagre, sobreviveu quando todo o mundo em sua volta se foi.
Quando
decidi conduzir a minha vida em nome do amor, sabia que estava correndo um
risco. O mundo não é nada piedoso para os sonhadores, é cruel para os
românticos e não facilita em nada quem decide priorizar o coração ao invés da
mente.
Eu
sei de tudo isso. Sei pelo que passei, sei de todas as pessoas que entraram em
minha vida, transformaram tudo em destroços, e saíram sem sequer olhar para
trás.
Problema
é de quem fica pra trás.
Nunca
desisti de sonhar. De procurar aquela mão que segurasse a minha e nunca mais
soltasse, por mais que o mundo pedisse isso. Aquele olhar que cruzasse com o
meu parado na porta, e fosse impossível desviar, já que era o olhar, o brilho
nos olhos que a gente procura a vida inteira no meio da multidão. Depois de
tanto tempo e tantas pessoas passando pela minha vida, eu achava que finalmente
minha busca tinha terminado.
Não,
não desta vez.
Eu
quis dividir o meu mundo. Eu quis fazer parte de um mundo. Me doei tanto, eu
subi tão alto e fui tão longe...
Agora
olho aqui de baixo como eu lutei a troco de nada.
As
lágrimas são a minha resposta de quem ainda briga para sobreviver. Estão tão perto
das minhas pálpebras, presas aos meus cílios. Mas não as deixo cair.
Não,
chorar não é sinal de fraqueza. Não, eu não tenho vergonha alguma de expressar
o que eu sinto.
Lágrimas
aliviam, libertam a alma. Mas não trazem ninguém de volta.
Eu
decidi não chorar. Já é tão difícil continuar respirando. Sufocando as palavras,
os sentimentos. Fingindo estar tudo bem, fingindo que nada aconteceu.
Fingindo,
fingindo...
Eu
nunca representei muito bem. Ser hipócrita então é algo que eu pessoalmente acho
que não sou.
E
agora o mundo, a sociedade me obrigando mais uma vez a ser o que não sou. A
representar um papel.
Como
odeio isso.
Se
bem que, pensando melhor, acho que eu nem sei ao certo como é odiar. Passei
tanto tempo, a vida inteira praticamente, doando amor e ganhando feridas, que
passo uma parte dela apaixonada e a outra entristecida. E outra parte ainda
tentando não desistir de alcançar a primeira.
E
olha eu aqui mais uma vez.
Rejeitada
pelo amor, tentando entender o que fiz de errado.
Mais
uma vez me responsabilizando, mais uma vez achando minha culpa, minha falta,
minha falha.
Terminando
de me destruir, já que alguém começou esse trabalho por mim.
Vi
uma vez, em um site, uma frase do Caio Fernando Abreu que dizia: “Engole teu
coração e se ame.” Estou tentando fazer isso. Mas não para me amar. Só para não
me ferir uma vez mais.
Se
eu desisti de amar? Não. Mas eu não vejo mais motivos para lutar por algo que
passei a vida inteira correndo atrás... E sequer deu um único passo em minha
direção.
Se
isso é o fim? Não. Meu coração não me pertence. Estou sofrendo apenas porque
preciso aprender a esperar que ele encontre o caminho de volta pra mim.
Esse
é o problema de entregar o coração às pessoas. Elas o rejeitam, ele se parte,
se tortura e então não sabe mais voltar.
Pelo
menos, quando partir desta vida, terei uma certeza. Minha vida pode ter sido
muito dolorosa de viver, com lições de lágrimas e provações hostis, mas não foi
vazia. Porque eu a preenchi com amor, mesmo que seja só do meu lado.
Eu
dei o amor a quem queria conhece-lo. Mas nem todo mundo está preparado para
entendê-lo.
Então
continuo seguindo meu caminho. Uma poesia de Drummond. Eu, correndo atrás de
meu coração, que corre atrás do amor, que não me quer.
Lágrimas
teimosas nos cantos dos olhos...
Não,
não posso deixa-las cair.
Kelly
Christine.