21 de jan. de 2018

Próximo Adeus...

Eu era irritante.
Era o barulho que eu fazia ao comer,
Era por falar demais.
Era por pensar demais.
Por ser “fresca demais”.
Nada estava bom.
Escutei isso durante semanas, e delicadamente, sutilmente, tentava reverter a situação.
Em silêncio, eu implorava que isso mudasse,
Estava cansada de tanto desamor.
Eu me podava, ainda mais.
Eu não ouvia uma palavra de afeto, um elogio.
Toda frase era uma piada ou uma agressão verbal ‘de leve’.
Eu pensava: se o amor está nas palavras,
Onde está esse amor agora?
Não me lembro mais o que é ser elogiada por alguém.
Não sei mais o que é me sentir querida, especial, fazer falta.
Me olho no espelho e parece que eu enxergo só aqueles defeitos que ele não cansa de enumerar.
O que sou eu afinal?
Por que insiste em ficar onde nada parece não te satisfazer?
Eu cruzo a cidade inteira para ficar umas horas ao seu lado,
Eu sempre te elogio, sempre te olho como nunca olhei para outro alguém,
Eu expresso meu carinho, sinto saudades, corro atrás,
E apesar de todos os meus defeitos, aos quais não nego a existência,
Dou o melhor de mim,
Entrego meu coração, abro as janelas de par em par.
E você?
Toda vez que eu subo naquele ônibus,
Vejo um olhar de quem se vê livre de uma obrigação,
Todas as noites andando sozinha pelas ruas,
Só Deus guia os meus passos,
Sim, aquele mesmo Deus que você desdenha.
As lágrimas, agora desenfreadas, caem com força pelo rosto,
Destilando no peito as palavras que pesam mortas na garganta,
Não podem ser ditas, pois não farão efeito algum.
Não serão ouvidas, pois não serão compreendidas.
Eu sou irritante,
É o barulho que eu faço ao comer,
É por falar demais,
É por pensar demais,
É por ser fresca demais.
Me explica que amor é esse,
Que não fala o que sente,
Não se elogia,
Não se cuida,
Não se rega?
Que amor é esse que só vê o que o outro tem defeituoso,
Que amor é esse que me obriga a deixar de ser o que sou,
Pra me tornar aquilo que você quer?
No meu pranto silencioso, partilho com a minha alma os pensamentos que me ferem,
Não há amigos para chorar,
Não há um ombro que me console.
E o Único que me mantém de pé,
É aquele mesmo Deus do qual você quer me afastar.
Talvez, eu não queria admitir para mim,
O quão próximo de um adeus eu possa estar.


Kelly Christine