Essa carta retrata o quanto podemos ser imaturos na segurança de um relacionamento longo. Sim, já fui adolescente, já cometi erros. Nem se comparam aos erros (e problemas) que tenho hoje. Essa carta se dedica à você. Você esteve presente nos momentos difíceis da minha vida e eu não te dei o valor que você merecia. Hoje com certeza, se eu tivesse que viver novamente, a “luz do meu palco” ainda iluminaria minha vida. O nome da pessoa ao qual me refiro na carta não vem ao caso. Mas quem me conhece bem, nesses últimos 16 anos , vai saber bem a quem me refiro e do que se trata.
Eu, um dia, acreditei na verdade do amor e na sinceridade das palavras. Deixei que a chama entrasse no meu ser e me queimasse a alma. Foi tudo ilusão, e morri do frio dos olhos de quem me jurava amor eterno. Me senti violada. Não deixei mais a chama entrar. Eu passava pelos corações alheios, depositava a minha chama, saía pelo mundo afora para não precisar me responsabilizar pelo incêndio, ou pelo frio. Tudo apenas ilusão.
Eu me iludia e iludia os outros, sem saber que cada vez que eu tinha o coração quebrado, partia o de outras pessoas também. Eu, que já não tinha amigos, perdi os poucos que me restaram, eu, que já não me dava bem com a minha família, nunca mais tive nenhum tipo de contato com os poucos parentes que ainda me restavam. E um a um foi fechando a cortina, me deixando no palco, encenando à ‘peça da vida’ sozinha.
Quando me dei conta, olhei em volta, não vi mais ninguém. Chorei. Perdi as contas das lágrimas que derramei por não ter sido forte e resistido até o ultimo minuto, a humilhação da solidão, rindo de mim. Corri em direção a uma luz que no fundo do palco me cegava as vistas. Como fui estúpida de não ter agüentado até o fim. A tolice me custou caro. Perdi parte da minha vida cercada da luz que me protegia da escuridão, mas que não me permitia enxergar as outras coisas que estavam no ‘palco’. Tentava ver a minha volta, fugia de seus raios de vez em quando para ver o que havia do outro lado. Mas voltava para sua proteção quase que correndo toda vez que me sentia desprotegida. Não olhava mais a vida com os olhos da luz. A luz olhava a vida por mim.
A cada dia que passava, eu sentia essa luz se apagando, seu calor sumindo. Já tinha me acostumado a ficar sob sua guarda e não queria mais me ver sozinha, no escuro. Eu tinha fugido várias vezes da claridade à procura do “novo”. E agora que estava ficando no escuro eu queria a luz.
Chorei. O desespero tomou conta de mim mais uma vez. Eu implorei por uma força maior que não me deixasse morrer no escuro. E a luz reviveu. Já não tinha o mesmo brilho que me ofuscava os olhos, mas continuava forte, decidida, protetora.
Por várias outras vezes eu fugi de sua proteção. E mais uma vez essa luz ameaçou se apagar pra sempre. Foi duro, triste, raivoso. Eu blasfemava contra minha proteção, que por sua vez me ameaçava com uma escuridão assustadora.
Santos, 19 de outubro de 2.000.
Kelly Christine