18 de jul. de 2012

Quanto Custa Sonhar?


As lágrimas escorriam grossas pela minha face. Eu não sentia piedade de mim, porém não entendia o porquê de tantas coisas desconexas estarem acontecendo comigo. Eu queria reclamar. Eu queria gritar. Eu queria que alguém olhasse pra mim, não só me visse.
Passei a noite enxugando o pranto que eu daria o mundo para dividir com alguém. Soluçando, entendia que os anos a mais me afastavam do que eu queria. A idade nunca pesou tanto, quanto está pesando agora. Experiência vivida, carisma, quase um bom vinho, isso tudo é hipocrisia para quem está vivendo uma crise dos 30. Isso aqui é mundo real. Isso aqui sou eu.
Olhava as páginas das redes sociais recheadas de pessoas que jogavam fora a juventude, sem ter o senso de o quanto eles vão sentir falta dela quando se for. Quantas decisões eu queria tomar agora com o conhecimento que eu tenho. Quantas pessoas de hoje eu queria ter conhecido anos atrás. Quanta coisa, quantos arrependimentos. O que eu não daria para voltar no tempo...
Tempo que as pessoas me olhavam como uma garota qualquer. Hoje, me classificar como uma “garota” chega a ser uma ofensa à sociedade. Onde já se viu uma garota com 30 e poucos? Não! Já é mãe de família, deveria estar casada, com o fogão esquentando a barriga e o tanque esfriando. Não, o mundo não me permite mais os sonhos de menina.
Sonhos de menina. Demorei tanto a ter condições de sonhar, agora não posso mais realizar nada, porque esses tempos passaram. Não posso mais querer o meu romance de jardim, não posso mais querer andar descalço na chuva, de mãos dadas, correndo sem direção. Não posso mais querer sonhar com aquele beijo único, que faz gelar a espinha e entorpece a alma. Não posso mais querer o sorriso largo e sem motivos, a gargalhada sincera que dói a barriga, as cócegas, os abraços. Os torpedos enviados, sem motivos, a todo o momento, com palavras carinhosas, os beijos deixados nas páginas de relacionamento, só para lembrar que naquele momento, (e em todos os outros) eu estava pensando nele. Nada disso me pertence mais. O mundo que vivo é das pessoas que giram em torno do dinheiro que possibilita comprar os sonhos. Sonhos consumíveis. Sonhos vazios, como a quantidade de zeros que as pessoas se submetem a cada dia, a humilhações e sacrifícios, em nome do deus todo poderoso da atualidade: o dinheiro.
Se fosse para viver essa viva sem rumo, sem direção eu jamais deixaria minha infância ir embora. Se fosse pra viver a maturidade de quem se preocupa demais somente com a única coisa que não vai sobreviver quando você se for, eu jamais teria deixado minha adolescência ir embora. Mas a infância passou. E a adolescência se foi. O que restou é um período sem tréguas, de pessoas que se importam com você, desde que você não esteja melhor que elas. O que restou foi a junção de todos meus terrores de infância, e o maior pesadelo da minha adolescência: a solidão que a vida me condenou, por entender que antes de você valorizar o próprio coração, precisa ver qual o valor dele no mercado, e se tem garantia estendida.

Kelly Christine

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