As
lágrimas escorriam grossas pela minha face. Eu não sentia piedade de mim, porém
não entendia o porquê de tantas coisas desconexas estarem acontecendo comigo.
Eu queria reclamar. Eu queria gritar. Eu queria que alguém olhasse pra mim, não
só me visse.
Passei
a noite enxugando o pranto que eu daria o mundo para dividir com alguém. Soluçando,
entendia que os anos a mais me afastavam do que eu queria. A idade nunca pesou
tanto, quanto está pesando agora. Experiência vivida, carisma, quase um bom
vinho, isso tudo é hipocrisia para quem está vivendo uma crise dos 30. Isso aqui
é mundo real. Isso aqui sou eu.
Olhava
as páginas das redes sociais recheadas de pessoas que jogavam fora a juventude,
sem ter o senso de o quanto eles vão sentir falta dela quando se for. Quantas
decisões eu queria tomar agora com o conhecimento que eu tenho. Quantas pessoas
de hoje eu queria ter conhecido anos atrás. Quanta coisa, quantos
arrependimentos. O que eu não daria para voltar no tempo...
Tempo
que as pessoas me olhavam como uma garota qualquer. Hoje, me classificar como
uma “garota” chega a ser uma ofensa à sociedade. Onde já se viu uma garota com
30 e poucos? Não! Já é mãe de família, deveria estar casada, com o fogão
esquentando a barriga e o tanque esfriando. Não, o mundo não me permite mais os
sonhos de menina.
Sonhos
de menina. Demorei tanto a ter condições de sonhar, agora não posso mais
realizar nada, porque esses tempos passaram. Não posso mais querer o meu
romance de jardim, não posso mais querer andar descalço na chuva, de mãos
dadas, correndo sem direção. Não posso mais querer sonhar com aquele beijo
único, que faz gelar a espinha e entorpece a alma. Não posso mais querer o
sorriso largo e sem motivos, a gargalhada sincera que dói a barriga, as
cócegas, os abraços. Os torpedos enviados, sem motivos, a todo o momento, com
palavras carinhosas, os beijos deixados nas páginas de relacionamento, só para
lembrar que naquele momento, (e em todos os outros) eu estava pensando nele. Nada
disso me pertence mais. O mundo que vivo é das pessoas que giram em torno do
dinheiro que possibilita comprar os sonhos. Sonhos consumíveis. Sonhos vazios,
como a quantidade de zeros que as pessoas se submetem a cada dia, a humilhações
e sacrifícios, em nome do deus todo poderoso da atualidade: o dinheiro.
Se
fosse para viver essa viva sem rumo, sem direção eu jamais deixaria minha infância
ir embora. Se fosse pra viver a maturidade de quem se preocupa demais somente
com a única coisa que não vai sobreviver quando você se for, eu jamais teria
deixado minha adolescência ir embora. Mas a infância passou. E a adolescência se
foi. O que restou é um período sem tréguas, de pessoas que se importam com
você, desde que você não esteja melhor que elas. O que restou foi a junção de
todos meus terrores de infância, e o maior pesadelo da minha adolescência: a
solidão que a vida me condenou, por entender que antes de você valorizar o próprio
coração, precisa ver qual o valor dele no mercado, e se tem garantia estendida.
Kelly
Christine
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