30 de jan. de 2017

Ainda é janeiro...

São tantas lembranças que eu queria apagar,
Isso porque ainda é janeiro,
O ano mal começou,
Minha esperança já terminou.
A vida é diferente do lado de cá.
A garota não consegue confiar integralmente,
Ama de coração, mas não se entrega inteiramente,
Alguns defeitos são impossíveis de reparar.
Eu pensava que estava bem,
Eu achando inocentemente que faria alguém feliz.
Só precisa de carinho, não é mesmo?
Só precisa de amor, de cuidado.
Ledo engano...
Ainda é janeiro e eu já me iludi.
Eu lutei tanto, e no fim, cheguei a lugar algum.
Ainda é janeiro e está lá,
A realidade que ninguém quer ver,
A verdade que ninguém quer notar.
O seu passado, no seu coração, ainda é presente.
Você só não quer admitir,
Que o que ainda toma conta da sua mente,
São memórias vividas longe daqui.
Eu me esforcei tanto,
Para ser o único motivo do seu sorriso,
Para ser a razão dos seus sonhos,
Para te conduzir ao paraíso.
Eu briguei, lutei, corri atrás,
Enfrentei os monstros mais cruéis em mim,
Em nome daquilo que eu achava que era amor,
E nunca teria fim.
Mas ainda é janeiro,
Olha só que ironia,
Em apenas 30 dias, dei a volta no mundo inteiro,
Para retornar a mesma agonia.
O que era pra ser profundo e leve,
Está se tornando doloroso e breve,
Sufocando as flores que cultivei,
Aqui estou, mais uma vez, a lutar em lágrimas,
Por alguém incapaz de demonstrar sentimentos além dos muros,
Preso às lembranças que te marcaram por toda vida.
E a minha ingenuidade me fez acreditar,
Que eu seria capaz de apagar,
Aquilo que te fez sofrer,
Então suas defesas me retribuíram o favor,
Com o mesmo tanto de dor,
De quem prefere morrer,
Depois que o coração se desfez.
E olha só, mais uma volta.
Ainda é janeiro,
E eu desistindo de tudo,
Mais uma vez.

Kelly Christine.


11 de jan. de 2017

"Pretinha..."

Algo não estava certo.
Eu não me sentia dali.
Estava desconectada, implantada em um lugar que não me pertencia.
Suportaria qualquer coisa por um sorriso seu,
Mas e se o preço fosse simplesmente deixar de ser eu?
O problema é quantos anos eu tenho,
A cor da minha pele,
A minha morada,
As posses que não possuo.
Não sou “classe média”.
Sou suburbana, periferia, com muito orgulho.
Choro sozinha, com vergonha de mim,
Nunca precisei fingir ser o que não sou,
Moro na favela,
Me orgulho da minha cor,
Meu caráter foi criado nas paredes de um quarto apertado,
Do conjunto habitacional,
Que você tem medo de estar.
Vejo as fotos,
E me sinto destonada,
Eu não combino com nada,
Por que estou aqui afinal?
Um silêncio cheio de lágrimas me invade,
Os únicos apelidos com carinho vêm relacionados ao negro,
Eu não ligo... ligo?
E o que eu sou se resume a isso?
O que eu sou pra você afinal?
Qual a importância da mãe solteira,
Parda,
Pobre,
Sem ensino superior,
Moradora da favela?
É isso que você vê?
É isso que os outros vêm?


Kelly Christine