Tudo começou com uma
pergunta durante o jantar. Ele está naquela fase dos “porquês”, então eu
preciso ter paciência de explicar certas coisas. Paciência é algo muito raro em
mim ultimamente, mas aquela pergunta, não era mais uma pergunta qualquer.
- Mamãe, por que tem
gente que morre?
Sim, era uma pergunta
que nem eu mesmo podia responder com total segurança. Como explicar para meu
filho que certas pessoas boas se vão e gente ruim acaba ficando e atormentando
ainda? Não precisava ser dura. Não precisava ser complexa, afinal, ele só tem 06
anos. Era preciso arrumar um exemplo que fosse de fácil compreensão pra ele e
que não o traumatizasse no futuro, já que não sei se farei parte dele.
- Filho, quando você
está na escola, e a ponta do seu lápis se quebra, o que você faz?
Ele me olhou com
curiosidade e sorriu. Respondeu sem pensar:
- Eu abro meu estojo,
tiro o apontador e aponto!
- Então, quando você
vai apontando o lápis, o que vai acontecendo com ele?
- Ah, mamãe, ele vai
ficando menor!
- Então, pense nas
pessoas como lápis. Eles nascem de uma grande árvore, cheios de energia,
prontos para escrever e desenhar. A medida que o tempo vai passando, vão
surgindo as dificuldades, os problemas, e a nossa ponta quebra. Então, vem o
grande apontador, para nos dar uma nova chance de continuar, porém, a um preço:
ele vai diminuindo nosso tempo de existência. Continuamos a nossa tarefa, até o
dia que o apontador não conseguir nos apontar, e ficamos pequeninos. Então,
quando você não consegue mais apontar e nem segurar o lápis por ele estar
pequeno demais, o que você faz?
Ele parecia estar
entendendo. Balançou as pernas embaixo da mesa, mastigou a comida com pressa
para falar:
- Eu troco de lápis!
- É assim a vida. O
mundo é um grande caderno e a gente vai escrevendo e desenhando conforme nossa
grande Mão vai comandando. O tempo vai passando, a vida se extinguindo, e o
mundo começa a exigir outro lápis. Por isso, aproveite bem a sua vida, escreva
e desenhe tudo o que tiver vontade, pois certas coisas só têm uma única chance
de fazer.
Ele me olhava e eu
percebi que entendeu. Nem eu sei da onde tirei uma comparação tão simples de
viver a vida. Mas agora, pensando por esse lado, percebo que há sentido nisso.
Existem tantos lápis no mundo, alguns com madeira nobre, outros ordinários, uns
em caixas de veludo e outros em caixas de papelão. Uns se espalham pela mesa e
quebram as pontas a todo o momento. Outros simplesmente escrevem, sem falhar,
até serem substituídos por outros.
Penso em mim, como um
lápis agora. Não sei bem de que tipo de madeira sou feita, mas vi minha ponta
quebrar várias vezes. Será que já escrevi e desenhei tudo que queria na vida?
Acho que não. Melhor
começar agora, antes que as folhas do meu caderno acabem.
Kelly Christine
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