11 de jul. de 2013

O Anjo Feio e o Deserto de Inverno - Fim.

Sentia os olhos secos como areia.
Há tristeza, há vazio.
Uma enorme vontade de chorar, mas algo não deixa, algo não quer.
Não seria tudo culpa minha afinal? Eu mansamente tentei cuidar e compreender,
E me feria a cada vez que deixava a porta aberta.
Mas não é isso que fazemos por quem amamos?
Seria. Pelo menos é o que eu aprendi.
Eu fui tola. Eu me deixei enganar.
Eu queria acreditar em uma mentira achando que poderia torna-la verdade.
Eu me iludi. Eu sabia o tempo todo.
É como estar desperto no próprio pesadelo, e apesar de haver uma vontade de fugir, você se deixa permanecer.
Respiro com dificuldade. O ar teima em não querer descer pelos pulmões.
Não há nada que eu possa fazer para combater o mal que causa a si mesmo.
É humano, mas não há humanidade dentro de si.
Tão frio quanto o inferno. Tão vazio quanto o deserto.
E quem sou eu perante o deserto de inverno?
Nada. Um grão de areia tentando completar o que quer ser, por definição, incompleto.
E pela primeira vez percebi que, apesar do imenso vazio, não há espaço pra mim.
Eu fui tola. Eu me deixei enganar.
Pobre anjo feio... achou mesmo que suas palavras e suas atitudes poderiam mudar alguma coisa?
Olhe pra você. Uma junção de vários pedaços deixados para trás.
O que restou depois que as pessoas te usaram. O que restou de gente que você julgava ser importante.
Você nunca foi nada anjo feio. Pra ninguém.
Usado, esquecido, deixado de lado. E nada mais.
Pare de entregar seus sentimentos como se oferece pão a quem tem fome.
O que tu ofertas, nunca é o que as pessoas querem receber.
Elas querem mais. Muito mais. E quando você se desdobra para lhes proporcionar esse ‘mais’ sua utilidade já se deu por vencida.
É isso.
Eu fui tola. Eu me deixei enganar.
Quem quer ir além não se torna quem foi um dia.
Assisto em silêncio, a vontade das lágrimas que não saem, do rosto do anjo feio.
Ele segura os pedaços do coração, mais uma vez.
Por quanto tempo mais anjo? Semanas, meses?
Por quanto tempo aguentará em silêncio a crueldade humana de quem te arranca tudo, as asas, a vida, e você fica a assistir?
Um olhar triste responde o que as palavras são incapazes de dizer.
É uma lição amarga de se aprender.
O anjo feio, agora sem lágrimas, olha o sol que brilha lá fora.
Se lembra cheio de tristeza, um olhar que partiu e nem sequer olhou pra trás.
É humano, mas não há humanidade dentro de si.
Até o coração aos pedaços do anjo feio desistiu de se envenenar aos poucos.
É hora de fechar a porta.

Kelly Christine.

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