Sentia
os olhos secos como areia.
Há
tristeza, há vazio.
Uma
enorme vontade de chorar, mas algo não deixa, algo não quer.
Não
seria tudo culpa minha afinal? Eu mansamente tentei cuidar e compreender,
E
me feria a cada vez que deixava a porta aberta.
Mas
não é isso que fazemos por quem amamos?
Seria.
Pelo menos é o que eu aprendi.
Eu
fui tola. Eu me deixei enganar.
Eu
queria acreditar em uma mentira achando que poderia torna-la verdade.
Eu
me iludi. Eu sabia o tempo todo.
É
como estar desperto no próprio pesadelo, e apesar de haver uma vontade de
fugir, você se deixa permanecer.
Respiro
com dificuldade. O ar teima em não querer descer pelos pulmões.
Não
há nada que eu possa fazer para combater o mal que causa a si mesmo.
É
humano, mas não há humanidade dentro de si.
Tão
frio quanto o inferno. Tão vazio quanto o deserto.
E
quem sou eu perante o deserto de inverno?
Nada.
Um grão de areia tentando completar o que quer ser, por definição, incompleto.
E
pela primeira vez percebi que, apesar do imenso vazio, não há espaço pra mim.
Eu
fui tola. Eu me deixei enganar.
Pobre
anjo feio... achou mesmo que suas palavras e suas atitudes poderiam mudar
alguma coisa?
Olhe
pra você. Uma junção de vários pedaços deixados para trás.
O
que restou depois que as pessoas te usaram. O que restou de gente que você
julgava ser importante.
Você
nunca foi nada anjo feio. Pra ninguém.
Usado,
esquecido, deixado de lado. E nada mais.
Pare
de entregar seus sentimentos como se oferece pão a quem tem fome.
O
que tu ofertas, nunca é o que as pessoas querem receber.
Elas
querem mais. Muito mais. E quando você se desdobra para lhes proporcionar esse ‘mais’
sua utilidade já se deu por vencida.
É
isso.
Eu
fui tola. Eu me deixei enganar.
Quem
quer ir além não se torna quem foi um dia.
Assisto
em silêncio, a vontade das lágrimas que não saem, do rosto do anjo feio.
Ele
segura os pedaços do coração, mais uma vez.
Por
quanto tempo mais anjo? Semanas, meses?
Por
quanto tempo aguentará em silêncio a crueldade humana de quem te arranca tudo,
as asas, a vida, e você fica a assistir?
Um
olhar triste responde o que as palavras são incapazes de dizer.
É
uma lição amarga de se aprender.
O
anjo feio, agora sem lágrimas, olha o sol que brilha lá fora.
Se
lembra cheio de tristeza, um olhar que partiu e nem sequer olhou pra trás.
É
humano, mas não há humanidade dentro de si.
Até
o coração aos pedaços do anjo feio desistiu de se envenenar aos poucos.
É
hora de fechar a porta.
Kelly
Christine.
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