Eu olho para a aliança no meu
dedo e não sinto mais o compromisso que significa.
Amor é cuidado, atenção, diálogo,
compreensão.
É cumplicidade, é estar junto
mesmo quando se está separado.
É se importar sempre, até mesmo
quando não parecer.
É expressar quando as palavras
são possíveis, e demonstrar quando não for possível dizer.
É entender que os pequenos gestos
fazem toda a diferença, e que os sentimentos mais puros se escondem nos
detalhes.
É saber estar ali, naquele
momento difícil, mesmo que seja pra estar em silêncio, dizendo sem palavras ‘estou
aqui’.
É dividir o coração, multiplicar
sentimentos, para somar as vidas.
É fazer planos, que hoje podem
parecer impossíveis, mas amanhã, quem sabe?
É manter viva as esperanças,
quando o mundo inteiro apontar o dedo em riste e te dizer não.
Isso é amor.
Isso é querer estar nessa vida e
nas próximas ao lado de alguém que te impulsiona pra frente.
Estar ao lado, para sermos
companheiros.
Estar à frente para abrir seus
caminhos quando houver necessidade.
Estar atrás quando precisar te
proteger.
Sonhar seus sonhos, e entrelaçar
aos meus.
Dividir o açaí, a cama, o gato e
o cachorro.
Sempre entendi que o amor fosse
isso.
Querer te dar tudo o que minha
capacidade puder e além mais.
Eu entendia isso.
Eu olho para a aliança e lembro
daquele brilho nos olhos do dia que a recebi, a alguns meses atrás.
Eu me via no fundo dos seus
olhos, e não queria mais nada do mundo.
Dias passaram.
Semanas passaram.
Meses passaram.
Eu me mantive fiel até então a
tudo o que acreditava.
Mas o seu olhar mudou.
O brilho parece que se apagou, não
consigo me ver em meio a névoa que eles agora carregam.
Discussões sem motivo, brigas
homéricas.
Palavras duras pelo celular.
A atenção diminuiu. A saudade
parece não ser um problema que te incomoda.
Estou no canto da sua estante
para usufruir quando houver um tempo livre.
Não estou nos seus sonhos. Não
estou nos seus planos.
Os seus problemas diários, seu
stress recorrente, e tudo aquilo que te impulsiona pra baixo ganharam uma
importância tão maior, que não existe mais espaço.
Os sorrisos sumiram. Deram lugar
a lágrimas silenciosas que desistiram.
Preferem ficar caladas do que
discutir com alguém que não consegue enxergar e não quer ouvir, mesmo quando
você insiste.
Não quer dar adeus, mas não
trabalha pra manter.
Se se importa, não demonstra.
Não lê, não liga, não surpreende.
É o cansaço.
É a irritação.
É a ansiedade.
É o dinheiro.
É os problemas.
É tudo. Mesmo quando eu tento me
manter ao lado – estou aqui, no ruim, no bom – não quero ninguém aqui, saia!
A prioridade se torna dormir e
fugir da realidade.
A prioridade é pagar as contas,
controlar gastos, se responsabilizar por problemas que nem mesmo são seus.
Tudo é prioridade. E o amor,
prometido que carrego na mão direita, escorre entre os dedos, sem me dar a
chance de poder fazer algo pra segurar.
Eu corri atrás.
Eu fiz tudo o que podia.
Chorei, conversei, sofri.
Passei (e estou passando) pelos
piores momentos da minha vida, e mesmo assim, eu tentei estar ali, quando
ninguém mais estava.
E quem estava comigo quando eu
precisei?
Eu sou descontrolada.
Eu sou impulsiva.
Todos os meus defeitos você
rotulou e não teve o trabalho nem mesmo de entender o porquê.
Tão mais fácil julgar.
Tão mais fácil apontar o mesmo
dedo que te apontaram pra mim.
Eu ainda estou aqui, no mesmo
lugar.
O sentimento é o mesmo, as
intenções, os planos, os sonhos também.
Eu estou aqui... mas preciso
continuar a caminhar.
E o compromisso de quem assumiu
apenas em ficção, se não se tornar real, me obrigará apenas a mudar de sonho.
Ou deixar de sonhar.
Kelly Christine