26 de set. de 2017

A aliança.

Eu olho para a aliança no meu dedo e não sinto mais o compromisso que significa.
Amor é cuidado, atenção, diálogo, compreensão.
É cumplicidade, é estar junto mesmo quando se está separado.
É se importar sempre, até mesmo quando não parecer.
É expressar quando as palavras são possíveis, e demonstrar quando não for possível dizer.
É entender que os pequenos gestos fazem toda a diferença, e que os sentimentos mais puros se escondem nos detalhes.
É saber estar ali, naquele momento difícil, mesmo que seja pra estar em silêncio, dizendo sem palavras ‘estou aqui’.
É dividir o coração, multiplicar sentimentos, para somar as vidas.
É fazer planos, que hoje podem parecer impossíveis, mas amanhã, quem sabe?
É manter viva as esperanças, quando o mundo inteiro apontar o dedo em riste e te dizer não.
Isso é amor.
Isso é querer estar nessa vida e nas próximas ao lado de alguém que te impulsiona pra frente.
Estar ao lado, para sermos companheiros.
Estar à frente para abrir seus caminhos quando houver necessidade.
Estar atrás quando precisar te proteger.
Sonhar seus sonhos, e entrelaçar aos meus.
Dividir o açaí, a cama, o gato e o cachorro.
Sempre entendi que o amor fosse isso.
Querer te dar tudo o que minha capacidade puder e além mais.
Eu entendia isso.
Eu olho para a aliança e lembro daquele brilho nos olhos do dia que a recebi, a alguns meses atrás.
Eu me via no fundo dos seus olhos, e não queria mais nada do mundo.
Dias passaram.
Semanas passaram.
Meses passaram.
Eu me mantive fiel até então a tudo o que acreditava.
Mas o seu olhar mudou.
O brilho parece que se apagou, não consigo me ver em meio a névoa que eles agora carregam.
Discussões sem motivo, brigas homéricas.
Palavras duras pelo celular.
A atenção diminuiu. A saudade parece não ser um problema que te incomoda.
Estou no canto da sua estante para usufruir quando houver um tempo livre.
Não estou nos seus sonhos. Não estou nos seus planos.
Os seus problemas diários, seu stress recorrente, e tudo aquilo que te impulsiona pra baixo ganharam uma importância tão maior, que não existe mais espaço.
Os sorrisos sumiram. Deram lugar a lágrimas silenciosas que desistiram.
Preferem ficar caladas do que discutir com alguém que não consegue enxergar e não quer ouvir, mesmo quando você insiste.
Não quer dar adeus, mas não trabalha pra manter.
Se se importa, não demonstra.
Não lê, não liga, não surpreende.
É o cansaço.
É a irritação.
É a ansiedade.
É o dinheiro.
É os problemas.
É tudo. Mesmo quando eu tento me manter ao lado – estou aqui, no ruim, no bom – não quero ninguém aqui, saia!
A prioridade se torna dormir e fugir da realidade.
A prioridade é pagar as contas, controlar gastos, se responsabilizar por problemas que nem mesmo são seus.
Tudo é prioridade. E o amor, prometido que carrego na mão direita, escorre entre os dedos, sem me dar a chance de poder fazer algo pra segurar.
Eu corri atrás.
Eu fiz tudo o que podia.
Chorei, conversei, sofri.
Passei (e estou passando) pelos piores momentos da minha vida, e mesmo assim, eu tentei estar ali, quando ninguém mais estava.
E quem estava comigo quando eu precisei?
Eu sou descontrolada.
Eu sou impulsiva.
Todos os meus defeitos você rotulou e não teve o trabalho nem mesmo de entender o porquê.
Tão mais fácil julgar.
Tão mais fácil apontar o mesmo dedo que te apontaram pra mim.
Eu ainda estou aqui, no mesmo lugar.
O sentimento é o mesmo, as intenções, os planos, os sonhos também.
Eu estou aqui... mas preciso continuar a caminhar.
E o compromisso de quem assumiu apenas em ficção, se não se tornar real, me obrigará apenas a mudar de sonho.

Ou deixar de sonhar.

Kelly Christine

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