Dizem que um olhar é capaz de
traduzir tudo o que se passa em nosso interior.
Naquele momento em que olhei para
você, eu compreendi isso.
Nenhuma palavra precisou ser
dita. Mesmo em seus momentos de raiva comigo, não havia aquele olhar: um olha
de ódio, iria muito além da raiva, do aborrecimento, da fúria.
Eu entrei calada, sabia que tinha
cometido um erro impulsivo, não queria justificar nada, só queria que ele
estivesse bem.
Foi insuficiente.
Uma noite insone, um abismo na
cama que parecia tão vazia quanto as paredes do meu quarto.
A dor não justifica.
Me culpou por tudo, logicamente.
Eu tinha tanta culpa nas minhas costas, que o peso dela calou a minha voz.
Não, lágrimas não são argumentos.
Mas elas gritam no meu rosto, enquanto me encolho dentro da roupa, tentando
dizer algo desnecessário.
Me lembrei do olhar fulminante do
dia anterior.
Aquilo queimou a minha alma,
cravou na minha pele como tatuagem.
Aquilo era inesquecível.
Escutei nessa mesma noite de uma
pessoa: “casamento é quando você tem que estar ali, sempre. É quando um está
pelo outro, mesmo que ninguém mais esteja. ”
Aquilo ecoou na minha mente
durante todo o dia. Durante toda a noite. E ainda está ecoando.
Porque eu tentei estar ali.
E tinha cometido o erro de me
preocupar demais.
Silêncio.
Fui escutando os meus passos
desacompanhados, descendo as escadas.
Ainda sentia aquela porta
fechando atrás de mim. ‘Tchau’.
O que eu poderia fazer?
Nada.
Preciso me acostumar com os
silêncios.
Preciso entender que a felicidade
não foi feita para mim.
Que eu deveria me contentar com
uns poucos momentos de sorrisos, para uma vida inteira de dor,
De sonhos frustrados,
De olhar para o casal à minha
frente de mãos dadas, planejando o futuro,
E eu tendo que entender: não há
futuro pra mim.
Não o que eu desejo, não o que eu
sonhei.
Não há sonhos, não há promessas,
Apenas o silêncio da casa vazia,
A solidão que sentou, sem
cerimônia, na minha cama,
E aquele olhar de ódio, de quem
eu só esperava amor.
Kelly Christine
You were my fire,
So I burned,
Til' there was
nothing left of me...
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