11 de set. de 2017

O Retrato do Ódio...

Dizem que um olhar é capaz de traduzir tudo o que se passa em nosso interior.
Naquele momento em que olhei para você, eu compreendi isso.
Nenhuma palavra precisou ser dita. Mesmo em seus momentos de raiva comigo, não havia aquele olhar: um olha de ódio, iria muito além da raiva, do aborrecimento, da fúria.
Eu entrei calada, sabia que tinha cometido um erro impulsivo, não queria justificar nada, só queria que ele estivesse bem.
Foi insuficiente.
Uma noite insone, um abismo na cama que parecia tão vazia quanto as paredes do meu quarto.
A dor não justifica.
Me culpou por tudo, logicamente. Eu tinha tanta culpa nas minhas costas, que o peso dela calou a minha voz.
Não, lágrimas não são argumentos. Mas elas gritam no meu rosto, enquanto me encolho dentro da roupa, tentando dizer algo desnecessário.
Me lembrei do olhar fulminante do dia anterior.
Aquilo queimou a minha alma, cravou na minha pele como tatuagem.
Aquilo era inesquecível.
Escutei nessa mesma noite de uma pessoa: “casamento é quando você tem que estar ali, sempre. É quando um está pelo outro, mesmo que ninguém mais esteja. ”
Aquilo ecoou na minha mente durante todo o dia. Durante toda a noite. E ainda está ecoando.
Porque eu tentei estar ali.
E tinha cometido o erro de me preocupar demais.
Silêncio.
Fui escutando os meus passos desacompanhados, descendo as escadas.
Ainda sentia aquela porta fechando atrás de mim. ‘Tchau’.
O que eu poderia fazer?
Nada.
Preciso me acostumar com os silêncios.
Preciso entender que a felicidade não foi feita para mim.
Que eu deveria me contentar com uns poucos momentos de sorrisos, para uma vida inteira de dor,
De sonhos frustrados,
De olhar para o casal à minha frente de mãos dadas, planejando o futuro,
E eu tendo que entender: não há futuro pra mim.
Não o que eu desejo, não o que eu sonhei.
Não há sonhos, não há promessas,
Apenas o silêncio da casa vazia,
A solidão que sentou, sem cerimônia, na minha cama,
E aquele olhar de ódio, de quem eu só esperava amor.


Kelly Christine

You were my fire,
So I burned,
Til' there was nothing left of me...

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