23 de jan. de 2014

Ferrugem.

E nunca pesou tanto do jeito que pesa agora.
Eu que tinha os campos floridos de minha esperança tão bem cuidados,
Hoje vejo uma corrente enferrujada, numa terra que não nasce mais nada.
Esta é a melhor palavra que descreve esse sentimento: ferrugem.
Aquela bonita corrente, brilhante, segura, bem tratada,
Jamais abandonaria você quando precisasse.
Mas a realidade é bem outra,
O que não tem cuidado, perece com a ação do tempo.
O que não tem cuidado se desfaz.
Naquele chuveiro apertado,
Debaixo da água fria,
Fui eu e somente eu, abraçando os joelhos, que chorei.
Chorei tudo o que minha força pode suportar até então.
Ninguém viu, ninguém sentiu nada.
Só eu.
Ninguém está interessado no que você faz,
As pessoas só pensam em si mesmas, no benefício próprio.
Não ligam para mais nada.
A cobiça de ser melhor, de conquistar o mundo, de ser dono de si.
Esquecem que os amigos também precisam de cuidado.
Esquecem que amor se divide para se multiplicar.
Esquecem que, quem está ao seu lado, também quer se sentir importante, não invisível.
O mundo gira em torno de si mesmo.
O mundo gira... e pouco importa quem está ficando para trás.
Para que se preocupar com quem não pode te acompanhar?
Por que deve se importar com a limitação das pessoas?
Por que erguer quem está caído?
O que não tem cuidado, perece com a ação do tempo.
O que não tem cuidado se desfaz.
Por mais zelosa que seja a tarefa de cuidar deste jardim, de nada adiantará se o mundo pisa em minhas flores, desfolha meu canteiro e não planta nada novo no lugar.
Então foi sozinha, naquele quarto escuro de paredes cinzas e sem vida,
Numa noite quente, diante do pc,
Que eu decidi cimentar de vez este jardim.
Para quê cultivar flores,
Quando o próprio mundo as destrói?
Para que cultivar flores,
Se elas mesmas te machucam com espinhos?
Para que cercar com tanto cuidado,
Algo que o tempo cobriu de desolação e lágrimas?
As pessoas só se preocupam com dinheiro e status.
O mundo só está preocupado em sobreviver.
E eu tenho que me adequar a isso.
Resisti bravamente, os 35 anos da minha vida, relutante em deixar de lado os meus princípios.
Mas para que servem os meus princípios diante da realidade?
Não existem cores na verdade.
Ela é isso que eu vejo, sem ilusões, sem expectativas.
Não existe amor, fé ou qualquer outro sentimento que sobreviva diante dela,
Por maior que seja sua luta.
Sou uma máquina, programada para trabalhar até o final de meus dias,
Para pagar contas e sustentar uma cobiça que não é minha,
Fingir um orgasmo que não sinto,
Sorrir uma felicidade que não existe,
Viver uma vida que não planejei,
E conviver com pessoas que não quero estar.
Parabéns.
Tenho que deixar de ser pessoa e virar indivíduo.
O número da estatística.
A engrenagem do motor.
Parabéns.
Tive que fechar os olhos e ignorar o que sinto,
Esquecer os sonhos que eu sonhei,
Fingir que não tenho sentimentos.
Parabéns.
Tenho que aceitar tudo o que a sociedade impõe,
porque a verdade é essa e não está condicionada a mudança.
Parabéns.
A esperança e a fé que ainda me tornavam humana,
Viraram ferrugem.

Kelly Christine


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