Sou
do tempo do caderno de perguntas,
Dos
estojos musicais,
Da
caneta de 10 cores,
Dos
cadernos ‘Click’ da Tilibra.
Sou
do tempo das balas Soft (assassinas!),
Dos
quadrados e minúsculos ‘Chiclets’,
Do
guarda chuvinha de chocolate,
E
dos biscoitos ‘São Luiz’.
De
quando nada substituía uma roda de amigos na praça da igreja,
Do
Walkman, que só durava duas pilhas por fita cassete,
Dos
uniformes com cara de colégio de freira,
Dos
papéis de carta perfumados,
Do
‘Show dos Bairros’.
Sou
do tempo que as garotas sonhavam com seus vestidos bufantes aos 15,
E
com a festa conduzida por 15 cadetes da Aeronáutica.
Que
nossos maiores ídolos ainda eram os pais,
E
logo depois, toda a programação infantil da Manchete e TVS.
De
um tempo, meio que remoto,
Onde
eu tinha um caderno de poesia,
E
escrevia sobre os sentimentos versando palavras.
Dos
pôsteres colados nas paredes,
Da
máquina de escrever,
Da
família se reunindo na sala para ver o plantão do Jornal Nacional (é... com
aquela música apavorante).
Eu
vi gente morrer: Tancredo, Raul, Ayrton, Kurt, Mamomas, Tupac, Renato. L
Eu
vi gente nascer: (pois é, mas não lembro
de ninguém com muita expressão)
E
também vi o mundo mudar.
A
internet chegou e devastou tudo.
O
caderno de perguntas – virou aplicativo de celular.
Os
estojo musical – virou celular.
A
caneta de 10 cores – virou tablet.
Os
cadernos – viraram Notebooks.
O
Chiclets sumiu,
O
guarda chuva de chocolate virou obesidade,
Os
biscoitos viraram qualquer um,
A
roda de amigos virou grupo no Facebook.
O
Walkman virou Ipod,
Os
uniformes sumiram, afinal quando mais curto, melhor.
Os
papéis de carta viraram publicações na sua linha do tempo.
As
garotas só querem saber de abas retas, príncipes vagabundos, tumblr e
quadradinho de 8.
E
as festas bufantes deram lugar a viagens em álcool e substâncias um tanto
quanto ilícitas.
Os
protestos de 20 centavos que duraram 20 segundos.
Os
ídolos são aqueles que, quanto mais polêmicos, ruins de exemplos, desajustados,
melhor.
O
corpo vem em primeiro lugar do que a alma.
A
máquina de escrever deu lugar ao teclado e a família se reúne para assistir o
reality que nada inspira a não ser ainda mais vazio.
Sim
o mundo mudou. Mas não quer dizer que tenha mudado para melhor.
Olho
para o passado de tantas lições, e para o presente de tantas decepções e me
pergunto:
Se
é esse tipo de futuro e evolução que o mundo me reserva, mesmo eu tentando me
mudar para por consequência muda-lo, vale à pena continuar insistindo?
Eu
também me adaptei ao futuro.
Meu
caderno de poesia virou blog,
Mas
continuo escrevendo sobre os sentimentos, versando palavras.
Os
cabelos brancos apareceram aos pares,
A
visão embaçou-se,
O
celular virou companheiro de solidão.
E
assim caminha a humanidade,
Rumo
à própria miséria.
O
conhecimento virou artigo dos antigos,
Onde
a minoria dos novos faz realmente questão de aprender.
Geração
incapaz de formar uma idéia. Não tem base, pois não tem conhecimento.
Já
imaginei nosso futuro como ‘Blade Runner’ e como ‘Matrix’.
Hoje,
sei que vamos terminar como um grande filme de Hollywood: Parte 1 de 3.
Se
ninguém te avisou, eu te conto: estamos iniciando a parte 2 de 3.
Ainda
vai continuar aí, sem fazer nada?
Kelly
Christine.
“Nada
é permanente a não ser a mudança.” (Heráclito)
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