7 de nov. de 2017

Eu preciso de alguém...

Começo esse texto apenas com esse apelo:
Eu preciso de alguém que também precise de mim.
Alguém que sinta saudades,
Que surpreenda, de vez em quando.
Não preciso de milhares de provas, de centenas de presentes,
Uma flor arrancada de um jardim, um bilhete inesperado, uma mensagem fora de hora,
Eu preciso de alguém que também precise de mim.
Que acorde no meio da noite e perceba o quanto eu faço falta,
Que durma abraçado comigo quando eu estiver ao seu lado,
Que goste do meu cheiro, do meu carinho,
Que tenha fotos minhas no seu celular quando eu não estiver por perto.
Eu preciso de alguém que também precise de mim.
Que faça planos comigo, que imagine um futuro inteiro pela frente,
Que me impulsione pra frente, estando ao meu lado,
Que goste de gatos, de cachorros, de viagens, de Netflix.
Eu preciso de alguém que também precise de mim.
Será tão pecado desejar algo assim?
Hoje eu tenho que ficar calada,
Saio de tão longe pra te ver,
Tenho que correr atrás,
Não posso exigir nada, cobrar nada, reclamar de nada, sem diálogo.
E vejo o futuro repetir o passado,
Cansada de ter que mendigar pelo sentimento mais nobre da vida,
Eu preciso de alguém que também precise de mim,
Que não fique dormindo quando eu saio de casa pra vê-lo,
Ou pelo menos, que me convide para dormir também,
Que não tenha preguiça de estar comigo,
Que entenda que certos silêncios se fazem necessários,
Que analise melhor aquilo que fala e que faz.
Eu preciso de alguém que também precise de mim,
Pois ser maltratada, deixada de lado, correr sozinha, cansa.
Porque ser sempre eu a tentar manter essa relação de pé, cansa.
Porque ficar implorando carinho, atenção, amor, cansa.
Porque eu preciso de alguém que precise de mim,
Antes de eu desistir de precisar.


Kelly Christine

9 de out. de 2017

Desaparecendo...

E aquela chama tímida continua apagando,
Pouco a pouco, segundo a segundo.
Miseravelmente se apoiando em certezas que só geram incertezas.
Até quando precisarei fingir que está tudo bem?
Tenho que engolir todas as palavras que precisava dizer,
Me afogando em esperanças,
Então dissolvidas nas lágrimas de mais uma noite insone.
Eu olho no fundo dos seus olhos,
Você não consegue ver, não consegue sentir.
Não há mais conexões entre nós.
Meses sem um tempo que seja apenas nós dois,
A culpa é da crise, do gato, da saúde frágil e do total desiquilíbrio das minhas emoções.
Todos responsáveis... menos você.
Não há diálogo, não há conversa.
O silêncio permanece entalando a garganta de quem, pouco a pouco, vai desistindo.
Desistindo de lutar,
Desistindo de insistir no que machuca,
Desistindo de tentar conversar, argumentar, explicar, se fazer entender,
Desistindo...
De quem tem olhos, mas não consegue ver,
De quem tem ouvidos, mas não consegue ouvir,
De uma mente brilhante que não consegue compreender,
Vê a natureza humana frágil gradualmente ruir.
Nada faz, nada fez.
Fará?
Tarde demais pode ser,
Adiantará?
Eu ainda estou aqui,
Esperando um algo que nem sei se estaria por vir,
Segurando água com as duas mãos, a pensar:
Adiantará?
Eu me mantive ao seu lado,
Mesmo quando sua bipolaridade me expulsou,
Mesmo quando seu gênio ruim me maltratou,
Mesmo quando no meio de um sorriso, tudo o que eu queria fazer era chorar,
Mesmo assim, eu estava ali. Quem mais estará?
Preso a um passado que não vive o presente e não planeja o futuro.
Uma vida vivida apenas para respirar e nada mais,
Eu não me importaria, de ter os meus dias iguais,
Se tivesse a certeza de que, mais além,
Poderia contar com alguém,
Que não hesitaria em me estender a mão,
E me entregar o coração.
Não há amor e nem felicidade,
Sofrem aqueles que ainda demonstram bondade,
Por pessoas que te veem desmoronar,
Sem ao menos querer te escutar.
A fé que ilumina meu céu,
Me consola e não deixa me conformar com um destino cruel,
De uma chuva de pedras que me isolam... solidão.
Deus jamais colocaria em seu coração
Um sonho impossível de ser realizado,
Então esse seria o meu fardo,
Para chegar ao que sempre desejei?
Ter chegado ao destino, enfim, de tudo o que sonhei?
Ter o amor correspondido,
Esquecer o que tenho sofrido,
E finalmente, como a canção diz,
Ter um final feliz?

Kelly Christine

HISTÓRIAS, NOSSAS HISTÓRIAS,
DIAS DE LUTA.


Nenhuma glória...

26 de set. de 2017

A aliança.

Eu olho para a aliança no meu dedo e não sinto mais o compromisso que significa.
Amor é cuidado, atenção, diálogo, compreensão.
É cumplicidade, é estar junto mesmo quando se está separado.
É se importar sempre, até mesmo quando não parecer.
É expressar quando as palavras são possíveis, e demonstrar quando não for possível dizer.
É entender que os pequenos gestos fazem toda a diferença, e que os sentimentos mais puros se escondem nos detalhes.
É saber estar ali, naquele momento difícil, mesmo que seja pra estar em silêncio, dizendo sem palavras ‘estou aqui’.
É dividir o coração, multiplicar sentimentos, para somar as vidas.
É fazer planos, que hoje podem parecer impossíveis, mas amanhã, quem sabe?
É manter viva as esperanças, quando o mundo inteiro apontar o dedo em riste e te dizer não.
Isso é amor.
Isso é querer estar nessa vida e nas próximas ao lado de alguém que te impulsiona pra frente.
Estar ao lado, para sermos companheiros.
Estar à frente para abrir seus caminhos quando houver necessidade.
Estar atrás quando precisar te proteger.
Sonhar seus sonhos, e entrelaçar aos meus.
Dividir o açaí, a cama, o gato e o cachorro.
Sempre entendi que o amor fosse isso.
Querer te dar tudo o que minha capacidade puder e além mais.
Eu entendia isso.
Eu olho para a aliança e lembro daquele brilho nos olhos do dia que a recebi, a alguns meses atrás.
Eu me via no fundo dos seus olhos, e não queria mais nada do mundo.
Dias passaram.
Semanas passaram.
Meses passaram.
Eu me mantive fiel até então a tudo o que acreditava.
Mas o seu olhar mudou.
O brilho parece que se apagou, não consigo me ver em meio a névoa que eles agora carregam.
Discussões sem motivo, brigas homéricas.
Palavras duras pelo celular.
A atenção diminuiu. A saudade parece não ser um problema que te incomoda.
Estou no canto da sua estante para usufruir quando houver um tempo livre.
Não estou nos seus sonhos. Não estou nos seus planos.
Os seus problemas diários, seu stress recorrente, e tudo aquilo que te impulsiona pra baixo ganharam uma importância tão maior, que não existe mais espaço.
Os sorrisos sumiram. Deram lugar a lágrimas silenciosas que desistiram.
Preferem ficar caladas do que discutir com alguém que não consegue enxergar e não quer ouvir, mesmo quando você insiste.
Não quer dar adeus, mas não trabalha pra manter.
Se se importa, não demonstra.
Não lê, não liga, não surpreende.
É o cansaço.
É a irritação.
É a ansiedade.
É o dinheiro.
É os problemas.
É tudo. Mesmo quando eu tento me manter ao lado – estou aqui, no ruim, no bom – não quero ninguém aqui, saia!
A prioridade se torna dormir e fugir da realidade.
A prioridade é pagar as contas, controlar gastos, se responsabilizar por problemas que nem mesmo são seus.
Tudo é prioridade. E o amor, prometido que carrego na mão direita, escorre entre os dedos, sem me dar a chance de poder fazer algo pra segurar.
Eu corri atrás.
Eu fiz tudo o que podia.
Chorei, conversei, sofri.
Passei (e estou passando) pelos piores momentos da minha vida, e mesmo assim, eu tentei estar ali, quando ninguém mais estava.
E quem estava comigo quando eu precisei?
Eu sou descontrolada.
Eu sou impulsiva.
Todos os meus defeitos você rotulou e não teve o trabalho nem mesmo de entender o porquê.
Tão mais fácil julgar.
Tão mais fácil apontar o mesmo dedo que te apontaram pra mim.
Eu ainda estou aqui, no mesmo lugar.
O sentimento é o mesmo, as intenções, os planos, os sonhos também.
Eu estou aqui... mas preciso continuar a caminhar.
E o compromisso de quem assumiu apenas em ficção, se não se tornar real, me obrigará apenas a mudar de sonho.

Ou deixar de sonhar.

Kelly Christine

11 de set. de 2017

O Retrato do Ódio...

Dizem que um olhar é capaz de traduzir tudo o que se passa em nosso interior.
Naquele momento em que olhei para você, eu compreendi isso.
Nenhuma palavra precisou ser dita. Mesmo em seus momentos de raiva comigo, não havia aquele olhar: um olha de ódio, iria muito além da raiva, do aborrecimento, da fúria.
Eu entrei calada, sabia que tinha cometido um erro impulsivo, não queria justificar nada, só queria que ele estivesse bem.
Foi insuficiente.
Uma noite insone, um abismo na cama que parecia tão vazia quanto as paredes do meu quarto.
A dor não justifica.
Me culpou por tudo, logicamente. Eu tinha tanta culpa nas minhas costas, que o peso dela calou a minha voz.
Não, lágrimas não são argumentos. Mas elas gritam no meu rosto, enquanto me encolho dentro da roupa, tentando dizer algo desnecessário.
Me lembrei do olhar fulminante do dia anterior.
Aquilo queimou a minha alma, cravou na minha pele como tatuagem.
Aquilo era inesquecível.
Escutei nessa mesma noite de uma pessoa: “casamento é quando você tem que estar ali, sempre. É quando um está pelo outro, mesmo que ninguém mais esteja. ”
Aquilo ecoou na minha mente durante todo o dia. Durante toda a noite. E ainda está ecoando.
Porque eu tentei estar ali.
E tinha cometido o erro de me preocupar demais.
Silêncio.
Fui escutando os meus passos desacompanhados, descendo as escadas.
Ainda sentia aquela porta fechando atrás de mim. ‘Tchau’.
O que eu poderia fazer?
Nada.
Preciso me acostumar com os silêncios.
Preciso entender que a felicidade não foi feita para mim.
Que eu deveria me contentar com uns poucos momentos de sorrisos, para uma vida inteira de dor,
De sonhos frustrados,
De olhar para o casal à minha frente de mãos dadas, planejando o futuro,
E eu tendo que entender: não há futuro pra mim.
Não o que eu desejo, não o que eu sonhei.
Não há sonhos, não há promessas,
Apenas o silêncio da casa vazia,
A solidão que sentou, sem cerimônia, na minha cama,
E aquele olhar de ódio, de quem eu só esperava amor.


Kelly Christine

You were my fire,
So I burned,
Til' there was nothing left of me...

1 de mai. de 2017

Covardia...

Atravessando a dor da própria solidão sem apoio de ninguém.
A fé que me sustenta também enfrenta seus momentos de fraqueza.
Eu tento entender onde estava o meu erro.
Eu só pedi para você estar ali, comigo.
Ali, do meu lado, mais nada.
Mesmo assim, era demais.
Sem pestanejar ou sequer questionar,
Eu realizava cada um dos seus caprichos,
Mas quando só ameaçava questionar algo meu,
Era drama demais,
Chorona demais,
Tudo demais.
Egoísta demais para perceber o próprio egoísmo,
Dilacerava um coração aos poucos,
Cujo único erro foi amar demais.
Cansada de insistir numa vida sem perspectivas, eu me mantive em silêncio.
E mesmo assim, ainda era considerado um erro.
Um dia que você não me deu atenção enquanto eu estava lá.
No outro, eu não estava lá, e você não fez questão,
O terceiro foi o sinal de alerta.
Pra quê eu servia afinal?
Cedia aos seus desejos, e deixava de lado meus sentimentos?
O quão cruel pode ser uma pessoa,
Para despertar o amor de outra, sem intenção de amá-la?
Por que não me disse adeus, de uma vez?
Tão corajoso para gritar aos quatro ventos, os meus supostos erros,
E covarde demais para me afastar de uma vez?
Eu ainda tenho utilidade? E quando terei valor?
Cansada de me afogar em lágrimas de uma felicidade que só existe na minha cabeça,
Eu espero mais uma vez os dias passarem.
O adeus que a sua covardia deixou de dizer,
A realidade do tempo se encarrega de trazer.


Kelly Christine


14 de mar. de 2017

Guardei pra mim...

Guardei pra mim.
Aquela lágrima silenciosa que escorreu pela minha alma,
Quando a ansiedade da espera
Foi substituída pela decepção do encontro,
Quando o olhar que deveria ser doce, era recriminatório.
Guardei pra mim.
Todas as palavras que queria ter dito,
Todas as declarações doces que queria ter falado,
Todo o sentimento puro que queria ter demonstrado,
Guardei pra mim.
Pois eu gerei tantas expectativas sobre sonhos de papel,
Imaginei tantas coisas que nunca sairão de minha mente,
Realizei tantos feitos,
Que deixariam qualquer conto de fadas a desejar,
E tudo isso... Guardei pra mim.
Pois vaguei a vida inteira de coração em coração,
Procurando por morada,
Encontrando decepção,
Até pensar que finalmente o porto seguro tinha surgido no horizonte...
Mais uma vez, ilusão.
Guardei pra mim,
Continuo pisando em ovos para poder ser verdadeira,
Palavras mal interpretadas,
Destino sem eira nem beira,
Até quando terei que procurar?
Quando irá acabar, esse queira ou não queira,
Duas doses de paciência,
Uma tonelada de besteiras,
Guardei pra mim,
A vontade de estar dividindo,
Um futuro, um presente, um desejo,
O pedido e o ‘sim’,
Tudo aquilo de mais bonito,
Que imaginei assim,
Mais uma decepção quebrada,
Mais uma ilusão formada,
De um sonho que se dissipa,
Que eu guardei pra mim.


Kelly Christine

30 de jan. de 2017

Ainda é janeiro...

São tantas lembranças que eu queria apagar,
Isso porque ainda é janeiro,
O ano mal começou,
Minha esperança já terminou.
A vida é diferente do lado de cá.
A garota não consegue confiar integralmente,
Ama de coração, mas não se entrega inteiramente,
Alguns defeitos são impossíveis de reparar.
Eu pensava que estava bem,
Eu achando inocentemente que faria alguém feliz.
Só precisa de carinho, não é mesmo?
Só precisa de amor, de cuidado.
Ledo engano...
Ainda é janeiro e eu já me iludi.
Eu lutei tanto, e no fim, cheguei a lugar algum.
Ainda é janeiro e está lá,
A realidade que ninguém quer ver,
A verdade que ninguém quer notar.
O seu passado, no seu coração, ainda é presente.
Você só não quer admitir,
Que o que ainda toma conta da sua mente,
São memórias vividas longe daqui.
Eu me esforcei tanto,
Para ser o único motivo do seu sorriso,
Para ser a razão dos seus sonhos,
Para te conduzir ao paraíso.
Eu briguei, lutei, corri atrás,
Enfrentei os monstros mais cruéis em mim,
Em nome daquilo que eu achava que era amor,
E nunca teria fim.
Mas ainda é janeiro,
Olha só que ironia,
Em apenas 30 dias, dei a volta no mundo inteiro,
Para retornar a mesma agonia.
O que era pra ser profundo e leve,
Está se tornando doloroso e breve,
Sufocando as flores que cultivei,
Aqui estou, mais uma vez, a lutar em lágrimas,
Por alguém incapaz de demonstrar sentimentos além dos muros,
Preso às lembranças que te marcaram por toda vida.
E a minha ingenuidade me fez acreditar,
Que eu seria capaz de apagar,
Aquilo que te fez sofrer,
Então suas defesas me retribuíram o favor,
Com o mesmo tanto de dor,
De quem prefere morrer,
Depois que o coração se desfez.
E olha só, mais uma volta.
Ainda é janeiro,
E eu desistindo de tudo,
Mais uma vez.

Kelly Christine.


11 de jan. de 2017

"Pretinha..."

Algo não estava certo.
Eu não me sentia dali.
Estava desconectada, implantada em um lugar que não me pertencia.
Suportaria qualquer coisa por um sorriso seu,
Mas e se o preço fosse simplesmente deixar de ser eu?
O problema é quantos anos eu tenho,
A cor da minha pele,
A minha morada,
As posses que não possuo.
Não sou “classe média”.
Sou suburbana, periferia, com muito orgulho.
Choro sozinha, com vergonha de mim,
Nunca precisei fingir ser o que não sou,
Moro na favela,
Me orgulho da minha cor,
Meu caráter foi criado nas paredes de um quarto apertado,
Do conjunto habitacional,
Que você tem medo de estar.
Vejo as fotos,
E me sinto destonada,
Eu não combino com nada,
Por que estou aqui afinal?
Um silêncio cheio de lágrimas me invade,
Os únicos apelidos com carinho vêm relacionados ao negro,
Eu não ligo... ligo?
E o que eu sou se resume a isso?
O que eu sou pra você afinal?
Qual a importância da mãe solteira,
Parda,
Pobre,
Sem ensino superior,
Moradora da favela?
É isso que você vê?
É isso que os outros vêm?


Kelly Christine