Não só os mortais sofrem por amor. Segundo a Mitologia Greco/Romana vários deuses e semideuses se entregaram a essa busca desenfreada por aquilo que chamamos de amor. Sofrimento, lutas, lágrimas. Só damos valor quando perdemos tudo. Por quê?
Confiram a lenda de Psiquê, uma das deusas com quem eu mais me identifiquei. Nessa história vi toda jornada que enfrentamos sempre: perder, lutar, vencer. Seria bom se todos nós tivéssemos a mesma determinação em busca do que acreditamos.
Psiquê era uma bela mortal por quem Eros, o deus do amor, se apaixonou. Tão bela que despertou a fúria de Afrodite(Venus), deusa da beleza e do amor, mãe de Eros - pois os homens deixavam de freqüentar seus templos para adorar uma simples mortal.
A deusa mandou seu filho atingir Psiquê com suas flechas, fazendo-a se apaixonar pelo ser mais monstruoso existente. Mas, ao contrário do esperado, Eros acaba se apaixonando pela moça - acredita-se que tenha sido espetado acidentalmente por uma de suas próprias setas.
O rei, pai de Psiquê, cujo nome é desconhecido, preocupado com o fato de já ter casado duas de suas filhas, que nem de longe eram belas como Psiquê, quis saber a razão pela qual esta não conseguia encontrar um noivo. Consulta então o Oráculo de Apolo, que prevê, induzido por Eros (Cupido), ser o destino de sua filha casar com um ente monstruoso.
Não sabendo que se casaria com Eros, e acreditando estar casada com um monstro, pois o deus do amor não lhe aparecia e, quando estavam juntos, ficava invisível, Psiquê demonstrava felicidade, pois conhecera os prazeres do amor, nas mãos do próprio deus do amor. Este, por sua vez, não podia revelar sua identidade, pois assim, sua mãe descobriria que não cumprira suas ordens - e apesar disto, Psiquê amava o esposo, que a fizera prometer-lhe jamais tentaria descobrir seu rosto.
Sentindo saudades das irmãs, a bela jovem pediu para ir ao encontro delas. Diante da insistência da amada, Eros a advertiu da alma invejosa das mulheres.
As duas irmãs foram, enfim, levadas. Inicialmente demonstrando pena do triste destino da sua irmã, mas vendo-a feliz, com mais luxo e conforto que elas, foram sendo tomadas pela inveja. Descobriram então, que Psiquê nunca tinha visto a face do marido. Disseram ter ouvido falar que ela havia se casado com uma monstruosa serpente. Então lhe deram a idéia: à noite, quando este adormecesse, tomasse de uma lâmpada e uma faca: com uma mão iluminaria o seu rosto; com a outra, se fosse mesmo um monstro, o mataria.
Psiquê resistiu os conselhos das irmãs o quanto pôde, mas o efeito das palavras e a curiosidade da jovem tornaram-se fortes. Colocou o plano em execução: Após perceber que seu marido dormia, levantou-se tomando uma lâmpada e uma faca, e com a luz voltada ao rosto de seu esposo, pronta para matá-lo.
O que viu, surpreendeu Psiquê: admirada com a beleza de seu marido, deixou pingar uma gota de azeite quente sobre o ombro dele. Eros acorda - o lugar onde caiu o óleo fervente de imediato se transforma numa chaga: o Amor está ferido.
Percebendo a intenção da esposa, Eros se sente traído e foge, gritando repetidamente: “O amor não sobrevive sem confiança!”
Psiquê fica sozinha, aos prantos lamentando seu erro, no imenso palácio.
Precisa reconquistar o Amor perdido.
Eros voa pela janela e Psiquê tenta segui-lo, cai da janela e fica desmaiada no chão. Então o castelo desaparece. Psiquê volta para a casa dos pais, onde reencontra as irmãs invejosas, que fingem sofrerem as mesmas dores da irmã. Acreditam que o lindo Eros, solteiro, as aceitaria e seguem em direção ao belo palácio. Chamam por Zéfiro e, acreditando estar seguras pelo mordomo invisível, se jogam e caem no precipício.
Psiquê começa sua jornada durante noite e dia, sem descanso nem alimentação. Avista um belo templo no alto de uma montanha e acreditando encontrar lá seu amor, escalou a montanha. Ao chegar no topo, depara-se com montões de trigo, espigas de milho, cevada e ferramentas, todas misturadas e ela os separa e organiza. O templo pertencia à deusa Ceres (Deméter), grata pelo favor da bela moça, como retribuição lhe dá um conselho: para reconquistar o marido, primeiro ela precisaria conseguir o perdão da sogra
A Busca pelo Amor
Psiquê vaga pelo mundo, desesperada, até que resolve consultar-se num templo de Afrodite. A deusa, já ciente que foi enganada, e mantendo Eros sob seus cuidados, decide impor à uma sofrida Psiquê uma série de tarefas, na esperança que ela nunca conseguisse concluí-las ou sua beleza se desgastasse na tentativa de terminá-las.Foi então imposto a ela, quatro trabalhos:
OS GRÃOS: A princesa foi colocada num quarto onde uma montanha de grãos de diversos tipos tinha sido misturada. Psiquê devia separá-los, conforme cada tipo, no intervalo de uma noite. A jovem começou a trabalhar, mas, mal fizera alguns pequenos montes e adormece exausta. Durante seu sono, surgem milhares de formigas que, grão a grão, os separam do imenso monte e os reúnem conforme sua categoria. Ao acordar, Psiquê percebe que a tarefa fora cumprida dentro do prazo.
A LÃ DE OURO: Afrodite pediu então, que a moça lhe trouxesse a lã de ouro do velocino de ouro. Após longa jornada, Psiquê encontra os ferozes animais, que não deixavam que deles se aproximassem. Uma voz surge de juncos num rio e a aconselha: ela deve procurar um espinheiro, junto a onde os carneiros bebem, e nas pontas dos espinhos recolher toda a lã que ficava presa. Cumprindo o que lhe foi dito, Psiquê realiza a tarefa, enfurecendo a deusa.
ÁGUA DA NASCENTE: Afrodite então lhe pede um pouco da suja água da nascente do Rio Estige. Mas a nova tarefa logo se revela impossível: o Estige nascia no uma alta montanha tão íngreme, que era impossível escalar. Levando um frasco em uma das mãos, a princesa cai na escarpa que se erguia à sua frente, quando as águias de Zeus surgem, tomando-lhe o frasco, voam com ele até o alto, e o enchem. O trabalho, mais uma vez, foi cumprido.
BELEZA DE PERSÉFONE: Afrodite percebeu que teria que dificultar ainda mais. Inventando que tinha perdido um pouco de sua beleza por cuidar do ferimento de Eros, pede a Psiquê que, no Reino dos Mortos (o País de Hades), pedisse à sua rainha, [Perséfone], um pouco de sua beleza. A deusa estava convencida de que ela não voltaria viva. A bela jovem vence mais uma vez. Convence Perséfone a encher uma caixa com sua beleza para a Deusa, porém quando está indo de volta a Afrodite, é traída pela própria vaidade. Imaginando que sua beleza havia se desgastado depois de tantos trabalhos, não resiste e resolve abrir a caixa. Cai em sono profundo. Eros, já recuperado de seu ferimento, vai ao socorro de sua amada, devolvendo o conteúdo para a caixa, despertando Psiquê. Ordena-lhe então que entregue a caixa à mãe dele.
Enquanto Psiquê entrega a caixa a Afrodite, Eros vai a Zeus e suplica que lhe ajude a ficar com a amada. Zeus concede esse pedido e consegue a concordância de Afrodite. Hermes leva então Psiquê ao Templo Celestial e Zeus a torna imortal. Juntos finalmente, Psiquê e Eros vivem a felicidade eterna.
Em grego "psiquê" significa tanto "borboleta" como "alma". Uma alegoria a imortalidade da alma, como a borboleta que depois de uma vida rastejante como lagarta, flutua na brisa do dia e torna-se um belo aspecto da primavera. É considerada a alma humana purificada pelos sofrimentos e preparada para gozar a pura e verdadeira felicidade.
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