12 de set. de 2012

Nascida no escuro.


Ouvia Legião Urbana durante minha infância/adolescência inteira. Sempre me identificava com as músicas, por causa dos meus conflitos internos e externos, estava sempre deprimida, quase sempre só. Hoje, anos depois daquela época que eu já considerava difícil, as mesmas músicas fazem parte do meu dia a dia. E continuam com o mesmo sentido, apesar das situações terem mudado de origem, o sentimento permanece sempre o mesmo. Pensar sobre isso se torna até engraçado, pessoas ao longo dos anos tendem a evoluir, amadurecer, construir seus próprios castelos.  Eu permaneci no mesmo lugar. Por comodismo? De maneira alguma. Pensei que as coisas pudessem mudar de acordo com a minha vontade, com a minha fé, com a minha esperança. Percebi talvez tarde demais que, ao contrário do que a maioria dos homens pensam, a fé e a esperança te mantém de pé, mas o destino e a sorte são conclusivos para que as coisas realmente aconteçam.
Sem hipocrisia que basta acreditar. Esse negócio de ficar esperando algo acontecer é pura fantasia. Mais do que dobrei meus joelhos, orei, rezei, chorei sozinha e dentro de igrejas que nada me ofereciam a não ser o olhar preconceituoso das pessoas, só porque era diferente dos demais. Não. Eu não nasci marcada. Eu nasci no escuro, sem ser vista ou notada.
Durante anos e anos a fio eu pensava que amanhã seria diferente. Eu sorria, mesmo não tendo forças sequer para falar. Eu fingia estar tudo bem, tateava no escuro confiando em um amanhã que jamais chegou. Assistia minha vida passando diante dos meus olhos, sem poder vive-la do jeito que queria ou precisava.  Fui pra lá, vim pra cá. Jogada, deixada de lado, traída, magoada, trocada. Eu jamais deixei de acreditar que poderia ser diferente, e dormia todas as noites com o pensamento de que amanhã seria uma nova chance de tudo poder dar certo.
A cada manhã a surpresa de que nada mudou, a não ser o dia no calendário velho pendurado na parede. A cada manhã sair de casa, trabalhar e voltar pra casa sabendo que a casa que eu voltava não era o lugar que me pertencia. Eu não pertencia a lugar nenhum. Eu não era de ninguém. Onde estava toda a fé do tamanho de um grão de areia que agora também me abandonava? Onde está o amor prometido, onde estão os sonhos tão coloridos, onde estão todos? Os abraços, os beijos, o carinho. Era tudo ilusão?
Todos nós vivemos uma rotina. Levantar pelas manhãs, tomar café, correr para tomar o ônibus, chegar ao trabalho, trabalhar o dia inteiro, correr para pegar o ônibus de volta pra casa, chegar cansado, estressado, abrir a porta de casa e ter seu marido/filho/cachorro esperando por você. Se será com sorrisos ou com contas pra pagar tanto faz, mas serão pessoas que sempre estarão lá. E por você.
A pergunta que fica. Quem me espera? Onde está o refúgio que eu preciso quando o trabalho me consome e as preocupações da vida me assolam? Onde? No final de cada jornada, apenas a solidão e a frieza do computador me esperam. A boa vontade de quem quer conversar comigo um pouco no msn ou simplesmente perder um pouco do seu tempo precioso com uma pessoa que parece que não tem nada a acrescentar. Realmente eu não sei muito. Mas a minha imaginação é tão vasta, o meu coração é tão grande, por que ninguém quer ficar aqui dentro?
E Renato Russo continua desfilando os seus versos de amor e rebeldia, que anos atrás (e ainda hoje) fazem a cabeça de muitos jovens. Talvez, se estivesse vivo, estaria meio decepcionado com o que o mundo se tornou hoje. Não. O mundo não mudou tanto assim, só as pessoas que se revelaram como realmente são. E isso ele já sabia. As pessoas só se importam com o que as favoreçam, e o outro que se vire. Você pode chamar a atenção de várias formas, porém as pessoas continuarão a enxergar somente o que querem enxergar.
Lutar pelo que se quer, sonhar com um amanhã diferente de hoje, tornar a lutar depois de amanhã.
Desculpa, mas nasci no escuro e não fui marcada pela sorte.

Kelly Christine.

“É PRECISO AMAR AS PESSOAS COMO SE NÃO HOUVESSE AMANHÃ...
PORQUE SE VOCÊ PARAR PRA PENSAR... NA VERDADE NÃO HÁ...”

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