Às
vezes, eu me esqueço de chorar.
Passo
tanto tempo fingindo ser forte, que não me permito chorar na frente das
pessoas, apesar de ser imensamente emotiva.
Dor.
Após senti-la por anos a fio, ainda não consigo me acostumar com ela. Nem com o
vazio que ela deixa por me roubar coisas tão preciosas da alma.
Lembranças.
Quando tudo que te resta é lembrar, sinal que a vida está chegando à curva de
seu ciclo final.
A
noite de ontem foi um imenso passeio ao inferno. Me senti em um filme, que
assisti a alguns anos atrás. Meio morta, querendo matar a outra metade. Meio
vazia, e sabendo que a outra parte escorria pelos meus dedos como areia fina.
Tão
estranho ver as pessoas assistindo seus momentos de dor como veem animais no zoológico.
Um pouco de curiosidade, mas nenhum apego. Recomeçam a sua vida da onde
pararam, como se simplesmente as coisas que aconteceram fossem um pesadelo
ruim, que já havia passado.
Fiquei
aqui. O que restou de mim foi um tanto de dor, outro de sofrimento, e um mar de
lágrimas que não paravam de cair. Eu deixei. Chorei até soluçar e dormir de
cansaço, para acordar no meio da madrugada e chorar tudo outra vez.
Tinha
apenas meu pc como testemunha. O pequeno dormia um sono tranquilo, que eu não
interrompi de maneira alguma. Afinal, quem mais se importaria comigo além dele?
Fácil
esconder e ignorar os sentimentos quando tudo o que você fez a vida inteira foi
ignorar o que o seu coração sussurrava, gritava, falava. Eu que sempre escutei
o meu, mesmo achando que estava errado, não sei fazer isso. Não sei ignorar um
olhar de desprezo sem me sentir um lixo. Não sei ignorar meu coração acelerando
e batendo triste por estar partido. Vazio. Você imagina que tudo vai ser
diferente, e percebe que foi exatamente igual da última vez.
O
que foi que eu vivi? Eu imaginei tudo ou realmente aconteceu? A bala, a música,
os lugares, a comida, os livros. Tudo um mar de lembranças. Só minhas? Sim, só
minhas. Tem pessoas com uma facilidade imensa de fingir que nada aconteceu. Ou
realmente não sentem nada diferente a não ser um vento que já foi embora. Será
que só eu me sinto assim? Provavelmente sim, quase certeza dizer, quando você
olha pra mesma pessoa e percebe que definitivamente ela não se importa se você
desaparecer amanhã. Ou quem sabe hoje mesmo. Ilusão de ser especial...
Percebo
que a sombra no meu olhar voltou. Ela que tinha me deixado, retornou com força,
e sabendo que vai ficar. Não preciso mais fingir o sorriso. A sombra não
permite isso. Mesmo que alguém me veja sorrindo agora, perceberá no meu olhar
que a dor é mais profunda do que eu quero mostrar. Mas quem vai me olhar mesmo
para perceber isso?
Às
vezes, eu me esqueço de chorar. Aí vem o mundo e me lembra mais uma vez.
Kelly
Christine
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