Acho
que sou única. Só pode.
Não
consigo pensar só em mim.
Não
consigo passar um dia sequer sem perguntar: “tá tudo bem?” mesmo sabendo que
independente da resposta, eu vou querer ajudar, acarinhar, proteger.
Nem
sempre perguntam o mesmo pra mim. E quando perguntam, posso dizer que estou
bem, com lágrimas nos olhos, e ninguém irá querer saber o real motivo delas.
Perguntam
pela força do hábito. Ou pelo código dos bons modos e da educação.
Ninguém
se importa verdadeiramente.
Eu
vivo em um mundo de pessoas individualistas que não medem esforços para
alcançarem seus objetivos, mesmo que isso custe a felicidade e a paz de outras
pessoas.
Escrúpulos
são coisas completamente obsoletas. O
importante é não alterar a rotina pragmática que levará o indivíduo ao sucesso.
Não
interessa quantas pessoas serão necessárias deixar para trás. Não importa
quantos sonhos serão desfeitos e quantas lágrimas serão derramadas.
O
importante é subir. Rumo ao sucesso, reconhecimento. Rumo ao preenchimento
total de sua carteira.
Vejo
o mundo movido ao dinheiro que preciso, mas detesto.
Vejo
as pessoas que eu precisava ao meu lado, movidas pelo dinheiro.
Egoístas,
individualistas, egocêntricas, inescrupulosas. Mesmo que ainda tenham alguma
sobra de caráter ou dignidade, estes serão destruídos pela sociedade que obriga
o indivíduo a se encaixar na maioria.
Ser
diferente lhes é dado como uma escolha. E essa escolha na maioria das vezes,
exige um preço tão alto, que poucas pessoas se aventuram a continuar insistindo
nela.
Exige
o preço da coragem. Da decisão de que por mais difíceis que sejam as
circunstâncias, você possui uma identidade, e quer mantê-la, não fazer parte
do padrão social estabelecido.
E
quem mesmo assim, ainda insiste em manter a liberdade de ser diferente, lida
com o preconceito. Sim, os olhos que condenam quem não quer fazer parte da massa
apenas.
Ser
única, sonhadora, emotiva, sensível, tem me levado à ruína todas as vezes que
insisto em não ser mais uma. E tem me separado das pessoas que querem fazer
parte da massa.
Mantenho
minha identidade. Mas fiquei presa à solidão. Afinal, quem quer ser considerado
um “excluído”? Ninguém nasceu para ser sozinho, pelo menos eu sempre pensei
assim.
Ontem,
eu tive certeza que mesmo não nascendo para estar só, é assim que vou ter que
continuar até o fim. Não por uma escolha apenas, mas pela consequência de ser
diferente.
Ser
diferente. Amar mais, confiar mais, se doar mais.
Não
receber nada.
Um
suspiro leva um pouco de ar aos pulmões agora. Nada mudou.
Não
quero mais me sentir sozinha. Quero amar, ter amigos e ser feliz. Mas não quero
fazer parte de uma maioria egoísta.
Enquanto
o meu destino me condena ao que eu já sabia, suspiro novamente.
Sinto
como se fosse um feirante que estende o coração para qualquer pessoa que passa
e o tem rejeitado por ser diferente. A rejeição, pela diferença, sem ao menos
ter experimentado.
Aos
poucos sinto ele morrendo. O que só eu cuido, e já foi tantas vezes exposto ,
quebrado, devolvido. Acho que ele mesmo desistiu de mim.
Vou
esperar. Sou flexível a mudar várias coisas em mim, mas a minha personalidade
não é uma delas.
Queria
que as pessoas me amassem pelo que sou. Não pelo que elas querem que eu seja.
É...
agora eu tive certeza que a solidão é o único destino que a vida me reserva.
Sinto
uma lágrima cair. Resignada.
Suspiro.
Kelly
Christine.
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