5 de abr. de 2013

Ser único...


Acho que sou única. Só pode.
Não consigo pensar só em mim.
Não consigo passar um dia sequer sem perguntar: “tá tudo bem?” mesmo sabendo que independente da resposta, eu vou querer ajudar, acarinhar, proteger.
Nem sempre perguntam o mesmo pra mim. E quando perguntam, posso dizer que estou bem, com lágrimas nos olhos, e ninguém irá querer saber o real motivo delas.
Perguntam pela força do hábito. Ou pelo código dos bons modos e da educação.
Ninguém se importa verdadeiramente.
Eu vivo em um mundo de pessoas individualistas que não medem esforços para alcançarem seus objetivos, mesmo que isso custe a felicidade e a paz de outras pessoas.
Escrúpulos são coisas completamente obsoletas.  O importante é não alterar a rotina pragmática que levará o indivíduo ao sucesso.
Não interessa quantas pessoas serão necessárias deixar para trás. Não importa quantos sonhos serão desfeitos e quantas lágrimas serão derramadas.
O importante é subir. Rumo ao sucesso, reconhecimento. Rumo ao preenchimento total de sua carteira.
Vejo o mundo movido ao dinheiro que preciso, mas detesto.
Vejo as pessoas que eu precisava ao meu lado, movidas pelo dinheiro.
Egoístas, individualistas, egocêntricas, inescrupulosas. Mesmo que ainda tenham alguma sobra de caráter ou dignidade, estes serão destruídos pela sociedade que obriga o indivíduo a se encaixar na maioria.
Ser diferente lhes é dado como uma escolha. E essa escolha na maioria das vezes, exige um preço tão alto, que poucas pessoas se aventuram a continuar insistindo nela.
Exige o preço da coragem. Da decisão de que por mais difíceis que sejam as circunstâncias, você possui uma identidade, e quer mantê-la, não fazer parte do padrão social estabelecido.
E quem mesmo assim, ainda insiste em manter a liberdade de ser diferente, lida com o preconceito. Sim, os olhos que condenam quem não quer fazer parte da massa apenas.
Ser única, sonhadora, emotiva, sensível, tem me levado à ruína todas as vezes que insisto em não ser mais uma. E tem me separado das pessoas que querem fazer parte da massa.
Mantenho minha identidade. Mas fiquei presa à solidão. Afinal, quem quer ser considerado um “excluído”? Ninguém nasceu para ser sozinho, pelo menos eu sempre pensei assim.
Ontem, eu tive certeza que mesmo não nascendo para estar só, é assim que vou ter que continuar até o fim. Não por uma escolha apenas, mas pela consequência de ser diferente.
Ser diferente. Amar mais, confiar mais, se doar mais.
Não receber nada.
Um suspiro leva um pouco de ar aos pulmões agora. Nada mudou.
Não quero mais me sentir sozinha. Quero amar, ter amigos e ser feliz. Mas não quero fazer parte de uma maioria egoísta.
Enquanto o meu destino me condena ao que eu já sabia, suspiro novamente.
Sinto como se fosse um feirante que estende o coração para qualquer pessoa que passa e o tem rejeitado por ser diferente. A rejeição, pela diferença, sem ao menos ter experimentado.
Aos poucos sinto ele morrendo. O que só eu cuido, e já foi tantas vezes exposto , quebrado, devolvido. Acho que ele mesmo desistiu de mim.
Vou esperar. Sou flexível a mudar várias coisas em mim, mas a minha personalidade não é uma delas.
Queria que as pessoas me amassem pelo que sou. Não pelo que elas querem que eu seja.
É... agora eu tive certeza que a solidão é o único destino que a vida me reserva.
Sinto uma lágrima cair. Resignada.
Suspiro.

Kelly Christine.

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