Os meus sonhos estão cercados... por arames farpados...♫
Foi
esses dias.
Fui
no casamento de um colega do trabalho, com outros colegas também.
Durante
a cerimônia, foi como se as portas da realidade batessem na minha cara, de par
em par.
Por
muitos e muitos anos eu sonhava com aquilo. Lutei desenfreadamente para fazer
com que tudo acontecesse, lutei para dividir minha vida, meus sonhos, meus
problemas com alguém, queria ser entregue pelo meu pai ao braço direito de um
homem que seria meu amigo, companheiro, amante, por toda minha vida.
Sim
aquilo tudo aconteceu naquela noite.
Mas
não foi comigo.
E
jamais aconteceria.
As
lágrimas desciam de par em par, sem controle.
Os
colegas riram de minha postura, afinal, tão normal chorar em casamentos, mas no
meu caso, chegara a ser copioso, afinal existiam outros motivos além da emoção.
Tantas
lembranças em sonhos destruídos, retratados em um momento que não me pertencia.
Tantos
desejos de realizar tudo isso com alguém impossível. Mas não.
Eu
estava ali sozinha. Eu estava ali, eu, minhas lágrimas, e os sonhos frustrados
de alguém que jamais viria isso acontecer.
Não,
não era por falta de luta. Nem de tentativas, nem nada disso.
Eu
lutei e o tempo passou. E esse tempo que passou jamais voltaria novamente para
que eu tentasse mais uma vez.
Os
anos não foram generosos e nem suaves para ninguém.
Me
deixaram dolorosamente no limiar de tudo o que desejava.
Não
era como simplesmente ter pena de mim, ou coisa semelhante.
Parecia
que o meu destino estava me mostrando que eu não tinha sido destinada a
permanecer em tudo o que eu sonhei.
O
que quero?
O
que ninguém pode me dar de volta.
Os
anos que eu perdi, lutando por uma causa igualmente perdida.
Lágrimas
vermelhas que saltam aos olhos.
Estou
sozinha mais uma vez. Isso não é algo que eu desejei, mas não adianta me
lamentar.
Renato
Russo já dizia: queria ter alguém pra conversar, que não usasse o que eu digo
contra mim depois.
As
palavras chegam mais uma vez pelas mensagens.
Medito
sobre elas mais uma vez.
Situações
tão diversas, o mesmo sentimento de impotência.
Sei
de todo aquele discurso heroico, sobre caráter e problemas que moldam a
personalidade de cada um.
Eu
sei de tudo isso.
Eu
quero continuar lutar, por mais frustrante que isso possa parecer.
Mas
o tempo impiedoso está passando. E o tempo não volta.
Sofro
num silêncio amargo de saber que terei que ser sombra dos sonhos alheios, já
que os meus mesmos não podem mais acontecer.
Sou
velha demais pra isso.
A
vida me contrariou em tudo o que sempre acreditei.
Os
sonhos não chegam, mesmo depois de você tentar, insistir e não desistir.
O
tempo não espera você realizar o que quer. Ele te enfraquecerá, envelhecerá e
depois te deixará com vergonha de continuar tentando conseguir coisas
consideradas “ridículas” pra sua idade.
Por
que me importar com que os outros pensam ou dizem na sociedade?
Porque
infelizmente ainda faço parte dessa sociedade ridícula que exige padrões.
Porque
tenho um filho, que gostaria que não se envergonhasse de mim.
O
que eu quero?
Uma
família Chester Perdigão.
Um
Natal dos meus sonhos e conversas corriqueiras na soleira da porta.
Sorrir
sem motivos. Chorar de felicidade.
Ver
o tempo correr devagar, não assistindo a vida passar, mas vivendo cada segundo
dela e saboreando dividir isso tudo com o mesmo olhar.
O
olhar que me tomou do braço esquerdo do meu pai.
No
impossível não existe concorrência. Por isso ninguém nunca chegou até lá.
E
é justamente para onde todos os caminhos da minha vida querem me mandar.
Uma
lágrima cai manchando o papel mais uma vez.
Resignação.
Kelly
Christine.