4 de jun. de 2013

Os bilhetes...

Eu ainda tinha os bilhetes.
Eles traziam lembranças, junto com as fotos, junto com as memórias que existiam e ainda sopravam no meu ouvido.
Eu ainda tinha na minha mente aquele sorriso ingênuo e bonito.
O mundo girou e as coisas mudaram.
Procurava nas palavras que eu disse, algo que pudesse ser interpretado de maneira errada.
Confiei, tentei ser confiável também.
Tomei todo cuidado para não machucar com as minhas atitudes, me mantive em silêncio o quanto pude.
E o que eu recebi?
Entreguei-me novamente para ser partida.
Parece que não aprendo, ou vivo de uma esperança utópica.
Me vi morrendo, mesmo antes de levar o tiro, e logo após também.
O coração se sentia tão magoado.
Eu olhava os bilhetes, nem pareciam escritos pela mesma pessoa.
As mensagens apaixonantes, pareciam não fazer sentido algum agora.
A ingenuidade pode ser tão facilmente corrompida?
Ou o caráter é assim, disfarçado, para fingir ser o que nunca foi?
Pessoas mudam ou se apenas se revelam?
Muitas perguntas. Nenhuma resposta.
Eu prometi a mim mesma que não me questionaria de novo. Nem a situação, nem nada mais.
Mas é impossível não questionar algo que está longe de se entender.
Por quê?
A única certeza que possuía era sobre o que eu sentia.
Isso, não tinha modificado em um único centímetro. Já havia sido quebrado, partido, sofrido, silenciado, mas permanecia lá. Sobrevivente, forte, resistente. Teimoso.
O que sobrava de mim era a junção de muitos pedaços, muitas dores e muitas histórias.
Sim, o silêncio responde até aquilo que não foi perguntado.
Condena com um olhar o que não tem perdão.
Julga aquilo que for conveniente.
O melhor sentimento? O que é correspondido.
Todo e qualquer outro é sinônimo de sofrimento e solidão.
Eu ainda tinha os bilhetes. E eles me tinham por inteiro.
As palavras que me envolviam e me faziam sentir tanta saudade.
Saudades. Escorre pelos olhos agora.

Recebi o pior castigo. Condenada por um erro que mal sei se cometi.
Os bilhetes me pertencem como eu pertenço a eles. Meu passado que seria tão bom se fosse presente.
O desejo preso em silêncio na garganta.
O mesmo silêncio que testemunha as lágrimas que caem agora.

Kelly Christine

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