17 de nov. de 2010

A Árvore de Natal... ='(

Se eu pudesse escolher entre um pesadelo e a vida que eu levo hoje, tranquilamente eu escolheria o pesadelo. Lá, pelo menos, eu teria chance de acordar. Com essa frase polêmica eu inicio o texto de hoje. Fala da mesma rejeição de amor, mas de outro tipo de amor, do amor de família.

Eu estava até tranqüila quando cheguei do trabalho. Tomei o meu banho, estava sossegada, quando surgiu a bendita idéia do espírito natalino (já que estão tão próximas as festividades). Queria ter a chance, depois de tanto tempo, de estreitar o abismo que tinha aberto entre nós, quem sabe eu finalmente teria o meu Natal “FAMILIA CHESTER PERDIGÃO”. Eu tinha acabado de pegar um encarte de uma grande loja de departamentos, onde eles faziam as promoções dos enfeites e artigos de Natal. Não custava arriscar. O dinheiro na minha conta bancária estava curtíssimo, mas se obtivesse uma resposta positiva não mediria esforços pra fazer um sacrifício. Então minha ruína começou com uma frase sem maldade:
“Mãe, o que você acha de comprarmos uma nova árvore de Natal?”
A intenção era óbvia: há mais de 20 anos, eu decorava minha casa no Natal. Tarefa sempre solitária pra mim. Minha árvore atual, já tem mais de 10 anos, se desfazendo, os enfeites gastos, perderam o brilho com o tempo. Eu queria reaproximar a família, tentar construir uma ponte, para atravessar o cânion que se formou entre nós. Por que não no Natal? Afinal as famílias se aproximam, não é verdade... As famílias se aproximam... Dizendo essa frase agora, e passando pelo que passei ontem, tive certeza que a minha família se destruiu.
Ela tinha acabado de chegar do trabalho (que executa 01 vez por semana) como eu. Enfrentei 01 hora e 50 minutos dentro de um maldito ônibus apertado, com um tempo chuvoso e sufocante. Algum stress, com certeza, quem enfrenta um dia de trabalho logo após um feriado prolongado, acaba fazendo algumas coisas acumuladas. Mas eu acordei com a vontade de carinho e afeto, aquele afeto diferente de um homem e uma mulher: afeto de família. Todo dia, durante esses longos anos a fio, chegando do trabalho, eu queria voltar pra casa E ME SENTIR EM CASA. Sim, era a casa de meus pais. Mas até então era o único lar que eu tinha conhecido.
Ela começou a falar. Algumas frases: impronunciáveis. Todas elas me acusavam de ser uma exploradora, eu não arcava as contas dentro de casa, eu não sustentava o meu filho, eu não era bem vinda ali. Ela nunca deixaria de ‘comer’ ou ‘de se divertir’ pra comprar uma maldita árvore. Eu que ‘tomasse vergonha na minha cara’ e comprasse. Seria mais do que minha obrigação. Eu estava contando uma piada pra ela. Uma piada que sinceramente eu não tinha visto graça alguma.
E foi esse discurso, durante há meia hora que veio a seguir. Eu já tinha finalizado o banho, me permiti demorar ainda mais alguns minutos no chuveiro, para deixar as lágrimas se misturarem com a água. Não queria que ela me visse humilhada como eu estava. Meu pai, impassível como sempre, permaneceu imóvel, como se assistisse à novela que corria na televisão da sala. Eles se emocionam mais com aquela maldita caixa de metal na frente deles do que comigo aos prantos. Então prometi que nunca mais choraria na frente deles.
Já não basta as duras decepções amorosas ao longo de tantos anos, ainda me iludo com aquilo que tenho em casa. Aquilo mesmo. Não se revolte comigo, no meu lugar, você também não chamaria aquilo de família. Você chamaria essa pessoa de mãe? Pois é. O meu coração não desistiu, mas a esperança fraquejou demais, adoeceu, se quebrou. A raiz de tanta mágoa nesse relacionamento (se é que existe relacionamento) ficará para outro dia. Hoje, dei destaque a apenas, um dos motivos que me movem a querer distância da casa onde cresci e das pessoas que me deram a vida. Pois não me deram base nenhuma para enfrentar as situações que eu enfrento e ainda minam qualquer esperança de renovação de relacionamento. Isso não existe mais.
Sai do banheiro com os olhos vermelhos e me fechei no quarto. Esperaria meu filho chegar. É a única família que eu conheço. Seria por ele que mais um ano eu tiraria os enfeites velhos e sem brilho sairiam das caixas empoeiradas de cima do guarda-roupa. Seria pra ver, nos olhinhos de seus 05 anos de vida, o que eu procurei na pergunta para minha mãe: a esperança que o ano que vem seria melhor do que esse e que Papai Noel realizava os nossos sonhos e Jesus renovaria nossa fé com sua chegada. Fiz uma promessa para mim mesma naquele banheiro minúsculo, olhando para o espelho embaçado, os olhos vermelhos, uma sombra de dor: enquanto não pudesse morar num lugar onde eu pudesse chamar de MEU LAR, minha casa, por menor que seja, desconfortável, na favela, mas MINHA, não compraria uma vela sequer para celebrar o Natal. Não havia o que celebrar. Natal esse que nos últimos 05 anos, eu tenho passado sozinha, ora vendo ‘A Missa do Galo’ na TV, ora vagando pelas ruas, pois o hábito de se reunir à mesa e compartilhar a Ceia, tinha se desfeito por completo e o meu tão sonhado “NATAL CHESTER PERDIGÃO” ficou apenas nos meus sonhos, sonhos estes que sei, nunca se realizarão.
Algumas horas depois que meu filho já tinha chegado e já estava dormindo, fui à sala. Vi que eles já tinham se recolhido ao quarto. Peguei o encarte da loja e joguei no lixo. Nele estava tudo o que eu acreditava. Eu simplesmente o coloquei onde tudo foi parar...

Kelly Christine

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