3 de jun. de 2011

BLUE...

Às vezes, precisamos apenas de um simples gesto para tornar o nosso dia feliz. Eu chegava em casa à noite, ele estava ali, quieto, de repente um salto! A alegria de me ver. Contei isso para algumas pessoas, algumas debocharam, outras me olharam incrédulas, pensando que eu estava ficando louca. Nada disso. Aquele pequeno ser me olhava com uma ferocidade e ao mesmo tempo com uma doçura única, ficava se movimentando inteiro, enquanto eu estava por ali, pelo pc, ou simplesmente assistindo TV. Enquanto eu não me deitasse, ele ficava me velando, me namorando, como se tomasse conta de mim.

Aquilo durou algum tempo.

Eu vi que nos últimos dias ele se debatia mais do que o normal. Batia a cabeça nas paredes de vidro, algo estava estranho. Adiantei a higiene em alguns dias, porém, era tarde demais.
Uma hora da manhã. Ver ele tão debilitado, quieto, sem forças me deixou desesperada. Quem ia me vigiar todas as noites? Quem ia me dar “bom dia” todas as manhãs?
Efetuei mais uma vez a higiene. Parece que ele respirou aliviado, como se o que o sufocasse foi a água que foi parar no ralo. Ficou numa paz inquestionável. Não o via mais saltando como sempre fazia, quieto ali no fundo entre as pedras, ele parecia adivinhar o fim da noite. Não quis mais comer. Eu dormi mal aquela madrugada.
Acordei cedo como sempre para trabalhar e deixar o menino da escola. Queria esperar aquele 'salto' de bom dia de sempre, porém tudo o que vi foi o olhar vidrado no fundo do aquário. Umas batidas no vidro, atestaram o que eu tive certeza: ele se foi. Duas lágrimas escorreram no meu rosto. O menino me olhava, “mãe o que houve com o Blue?” - Ele foi para o céu dos peixes filho – foi tudo o que o nó na garganta me permitiu dizer.
Escorri a água assassina. Deixei seu corpo miúdo entre as pedras e a pequena imitação em gesso de uma tartaruga. Joguei tudo fora. Não queria olhar para o aquário vazio, sem vida. Vida que transbordava e agora, só morte.
Você teve uma breve vida comigo, e eu tentei retribuir o carinho e a atenção que me dava todos os dias, gratuitamente. Espero que esteja bem, querido “peixe-ninja” como meu filho chamava você por ser tão bravo. Ninguém no mundo entende esse carinho especial que eu tive por você e a nossa relação cúmplice. Não importa. Sabemos ambos como fomos um importante para outro.
Talvez, algum dia desses, eu resolva ter outro peixe, como todos me falaram para ter, afinal é só chegar no pet-shop e comprar um novo.
Sim, eu sei o quanto as pessoas acham a vida de animais descartáveis e simplesmente substituíveis.
Porém nenhum deles será igual ao meu Blue.

Saudades...

Kelly Christine

Para sempre...Blue


Um comentário:

  1. Existem momentos passageiros, mas intensos. Sejam eles com pessoas,bichos ou até mesmo sozinhos.Não importa, eles ficam marcados na lembrança, e nos fazem dar valor as pequenas coisas da vida.

    estou seguindo..bjinhos

    Nina

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