TEXTO PESSOAL.
Querido Leitor(a) só leia se realmente tiver um tempo e paciência para isso. Caso contrário, passe para o post seguinte.
Aqui eu abro o meu coração. Se deseja entrar e conhecer, siga adiante.
Era fácil perceber que havia algo errado. Os olhos sempre com aquela sombra de dor, sempre cabisbaixa, sempre triste, um olhar perdido, um semblante desprovido de qualquer sorriso. Sorrir. Nem me lembrava como era isso.
Mais um dia se passou. O mesmo lanche de sempre, única refeição do dia, que enganava a fome que me consumia, mas fazia me lembrar também que não havia nada mais que eu poderia fazer. Tudo que eu podia, já foi feito. Abria a gaveta todos os dias e chorava. Faturas, cartas de cobrança, o telefone que não parava de tocar, cobrando, cobrando, cobrando. Minha mãe reclamava de tudo, já que ela atendia esses telefonemas: era a filha que não prestava, não valia nada, não tinha onde cair morta, nunca iria ser alguém na vida, nunca iria ter nada. NADA!
A rotina era essa: acordar aos berros da mãe, banho rápido, se trocar, menino na escola, ônibus lotado, trabalho que não me dá satisfação alguma, almoço sentindo apenas o cheiro da comida alheia, mais trabalho e insatisfação, ônibus lotado, trânsito infernal, casa, gritos da mãe, banho rápido, menino na cama, PC. De segunda a sexta, a mesma rotina, sem mudar um único passo. Isso é vida?
Chegar a um lugar depois de um dia difícil e não me sentir em casa.
Sair de um lugar onde não me sinto em casa e se perguntar por que tem que voltar.
Continuar a viver a vida, acreditando que amanhã será melhor que hoje e que hoje é melhor que ontem, mesmo que todo o universo te diga o contrário. Eu queria gritar!
Gritar pra alguém pelo amor divino, não me deixasse eu me afogar no mar de lama que me cobria até os ombros agora, gritar por ajuda! Eu já não estou suportando carregar isso sozinha. Eu olhava para os lados. Ninguém. Eu olhava para cima. Ninguém. Eu olhava para mim mesma. Só havia vazio. Então com o grito preso na garganta, eu mesma me afundei, deixando o silêncio tomar conta de mim. Onde estavam todas as pessoas que eu ajudei a devolver os sorrisos? Onde estavam aqueles que falaram que jamais iriam me abandonar ou trair quando eu mais precisasse? Onde estão?
Passei a tarde inteira travando uma luta comigo, querendo apenas um abraço, tentando pedir ajuda a quem confiava e não encontrando ninguém. Parecia que as pessoas não me levavam a sério. Mas eu estava ali me afogando no mar de lama. Será que ninguém consegue ver? Será que ninguém consegue enxergar quando o outro ao lado precisa de ajuda? É preciso pedir? É preciso gritar?
Por que ninguém tinha a mesma consciência que eu sobre uma pessoa quando está com problemas? Eu sentia quando as pessoas precisavam de ajuda. Era às vezes, uma palavra mais dura, uma atitude mais sensível, um choro sem motivo. Elas não precisavam me falar nada. Eu sentia nas entrelinhas o que poderia ser. E agia conforme a necessidade, tentando ajudar como eu podia. Desde menina eu fui assim, porém nunca encontrei alguém semelhante. Já estava começando a me sentir um alienígena, pois me sentia diferente das pessoas, e queria agora o mesmo pra mim. Seria mesmo?
O estômago grita o que quero esconder de quem não vê. O silêncio esconde o que as lágrimas não têm nenhum pudor de mostrar.
Uma revolta sem limites tomou conta de mim. Não quero mais viver a vida que eu não escolhi. Não quero mais ter que encarar sozinha, o que não consigo carregar sozinha. Não quero mais, porém, não há nada agora que eu possa fazer para mudar isso.
Lágrimas, solidão, revolta. Eu era um misto de tudo que me tornava absolutamente nada. Se dias melhores virão e essa seria só uma fase, essa fase já demora 30 anos que não passa.
Ao contrário do que as pessoas por aí falam: “você é saudável, é forte, trabalha, tem a vida toda pela frente...” sinceramente isso tudo para mim, é pura hipocrisia. Ninguém disse que eu era saudável, afinal habitante da grande metrópole São Paulo, ter um único problema respiratório ainda te deixa na vantagem. Porém, esse problema se agrava a cada ano, e agora, por ser alimentado pelas emoções, começou a fugir do meu controle.
Ninguém disse que eu era forte, pois eu já não consigo suportar a dor se seguir adiante.
O trabalho é instinto de sobrevivência, não me agrega valores nem morais nem financeiros.
Ainda dá pra continuar nessa hipocrisia?
Não, não sei se dá. Ir dormir todas as noites sem querer saber se quero acordar no dia seguinte não é vida. Só quem passa por isso sabe como é se sentir assim.
Olhar para o meu filho e saber que na condição que eu estou hoje jamais poderia dar um futuro simples, porém digno é frustrante pra mim.
Continuei a noite mergulhada nas minhas lágrimas, procurando alguém para jogar a corda para eu não me afogar. Eu não queria perder a esperança, nem a fé, mas o resultado da procura foi nulo. A única coisa que eu encontrei foi o mesmo vazio de antes, e agora, o frio da certeza.
O mar de lama não me matou.
Eu me deixei ser consumida por ele.
Kelly Christine
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